sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Trodonte - Mitologia [parte 2]

Após a Dominação de Ordox sobre Caox, inicia-se a Segunda Era da Criação.
Da união de Lithos (a terra) e Piros (o fogo), nasceram as primeiras estrelas: a Lua (cujas chamas trepidavam no início dos tempos, ao contrário do que os trodontes podem ver hoje) e o Sol. As estrelas nada mais são que grandes esferas de terra com chamas colossais, capazes de aquecer e iluminar mesmo o mais longínquo ponto. Ambas viviam em torno de Ordox e de seu irmão dorminado, Caox.
Lithos e Piros uniram-se milhares de vezes mais e geraram as milhares de estrelas fixas no firmamento, e até hoje repetem este ato. Entretanto, apenas às primogênitas, a Lua e o Sol, foi dado o privilégio de se aproximar de Ordox e Caox.
Além da união com Piros, Lithos também uniu-se com Aeros (o ar) e Hidros (a água) e criou Galflag, ou o Tríplice Híbrido. Entretanto, Galflag era fraco, e morreu logo após seu nascimento. Aeros, Hidros e Lithos, sem desistir, uniram-se novamente e recriaram o híbrido milhões de vezes, mas o resultado era o mesmo. Só quando foi colocado sobre o crânio de Ordox é que Galflag pôde sobreviver.
Galflag é o próprio planeta Terra, e seu nascimento e crescimento somente sobre o crânio de Ordox representam a necessidade de desenvolvimento, que só o último é capaz de satisfazer. Com o passar do tempo, Galflag moldou-se e tomou a forma da cabeça de seu hóspede, como um elmo.
Com Galflag repousando sobre o crânio Ordox, inicia-se a Terceira Era da Criação.
De Galflag brotou Halana, que moldou a primeira forma de vida - tornando-se, pois, a Moldadora da Vida. A primeira forma de vida era única e sublime.
Entediada, Halana gerou Ailamina e Eatnalpa, e incubiu-lhes a tarefa de alterar a vida por ela mesma criada. Ailamina e Eatnalpa moldaram a vida e criaram, respectivamente, o primeiro animal e a primeira planta.
Mas Halana não se deu por satisfeita. A primeira planta e o primeiro animal, assim como a primeira forma de vida, tinham formas únicas e sublimes. Halana pediu ajuda aos deuses primordiais, Lithos e Hidros. Convidou-os a alterar essas formas de vida como bem entendessem, e então surgiram a primeira planta aquática, a primeira planta terrestre, o primeiro animal aquático e o primeiro animal terrestre.
Entretanto, novamente, essas formas de vida era únicas e invariáveis. Ailamina e Eatnalpa, então, geraram inúmeros filhos unindo-se com Lithos, Hidros e até mesmo Aeros, que eram incumbidos de alterar essas formas de vida como bem quisessem. Esses filhos também geravam seus próprios filhos, que continuavam este mesmo trabalho. E, com cada novo deus moldando a vida à sua maneira, surgiram as diferentes facetas da mesma, presentes até hoje: os pinheiros, os sapos, as samabaias, os tiranossauros, e assim por diante.
Dezenas de gerações de deuses já haviam moldado a vida, quando nasceu Tarod, o deus dos trodontes. Diante de milhões de formas de vida já existentes, Tarod modificou levemente um dinossauro, mas foi essa modificação que o tornou exatamente igual a Ordox.
Ordox, então, transmitiu uma ínfima parte de sua consciência para esta criatura, idêntica a si. E então surgiu a primeira criatura inteligente, capaz de criar e se desenvolver.
Começou então a Quarta Era da Criação, na qual se desenvolve a civilização trodonte.

sábado, 29 de novembro de 2008

24 Horas e a política de intervenção americana

24 Horas - Elenco da sétima temporada

Essa semana, assisti ao telefilme de 24 Horas cujo trailer linkei aqui, ainda este mês. Gostei bastante do que vi, e tenho esperanças que a série ganhe novo fôlego depois de um ano e meio parada, principalmente por causa da greve dos roteiristas.
Uma coisa que me agradou muito, foi a intriga política que foi colocada como pano de fundo do filme, e que (eu espero) tenha continuadade ao longo da temporada. Não é certamente o que mais me atrai na série - o que mais me agrada talvez sejam coisas bem mais mundanas. Eu poderia citar o fator "aventura", a grandiosidade das crises e a urgência de tudo, a variedade de vilões e situações que Jack Bauer enfrenta, enfim, entre essas e tantas outras coisas que me agradam na série, mas essa não é a idéia desse post (pelo menos, não do post de hoje).
Queria falar como que, acredito eu, 24 Horas tenha apresentado de diversas formas um mesmo aspecto da política dos EUA, o que eu achei muito interessante.
Numa das primeiras temporadas (que foi ao ar no final de 2002, logo após os ataques de 11 de setembro e com a guerra no Afeganistão começando, se não me engano), discutiu-se na série a validade da invasão de um país, acusado de colaborar com o terrorismo. Um ataque terrorista teve sucesso relativo, e o presidente sentiu-se forçado a executar este ataque. Porém, ao longo da temporada, foi revelado que as provas do envolvimento deste país tinham sido produzidas por um grupo de empresários, que tinham como objetivo apenas encarecer o preço do petróleo.

Presidente David Palmer (2ª temporada)

Alguns anos depois, a série usou este mesmo tema, mas a trama era mais complexa, e os produtores resolveram ir "mais fundo": o próprio governo dos EUA conspirava para assegurar a posse dos campos de petróleo do centro da Ásia. O complicado esquema envolvia fornecer armas químicas para separatistas russos, e dispará-las no QG dos mesmos, para assim ter uma prova de que eles possuíam tais armas. Com essa prova, estaria justificada a presença militar americana na região. Qualquer semelhança com a realidade, com a busca por armas químicas no Iraque, não seria mera coincidência.

Presidente Charles Logan (5ª temporada)

E no ano seguinte, mais uma faceta possível da intervenção americana foi mostrada - dessa vez muito mais simples, e talvez por isso mesmo, assustadora. Diante de um ataque terrorista bem-sucedido (a explosão de uma bomba atômica de pequena proporções em Los Angeles), o então presidente dos EUA optaria pela retaliação contra o país dos terroristas - mesmo sem nenhum tipo de prova que o governo desse país ajudava esses terroristas. Ou seja, o ataque seria feito simplesmente por causa do belicismo do presidente, sem nenhum interesse em si. Novamente, qualquer semelhança com a realidade não seria mera coincidência.

Presidente Noah Daniels (6ª temporada)
É interessante como nessas duas temporadas, as duas possíveis faces foram apresentadas e bem exploradas. Uma conspiração por interesses no petróleo em uma, e a simples irracionalidade bélica do presidente em outra como grandes motivações.
Agora, com a nova temporada (sétima), surge uma terceira face da discussão. O país em questão não é mais do Oriente Médio, ou de qualquer região com petróleo, ou mesmo qualquer outro recurso importante. É um país africano fictício (Sangala), que está sendo vítima de um golpe de estado por um general sanguinário. A discussão girará em torno de ajudar ou não este país em apuros. A intervenção dos EUA, então, seria apenas para evitar um genocídio de milhares de pessoas inocentes. Seria uma intervenção desse tipo justificada? A nova presidente (Allison Taylor) alega que sim. É a velha questão da liberdade contra a vida novamente; alguma nação tem o direito de interferir nos assuntos de outro país, quando se trata de salvar milhares de vidas?

Presidente Allison Taylor (7ª temporada)

Sempre li que o criador de 24 Horas era republicano de carteirinha (literalmente). Não deixa de ser verdade, pelas ideologias que são mostradas na série. Mas eu gostei de como a política de intervenção americana foi mostrada de tantas maneiras, talvez até de todas possíveis, isso dá bastante margem para o espectador tirar suas próprias conclusões (não que o americano médio inflexível vá fazê-lo). E é engraçado como a nova temporada poderia estar antevendo acontecimentos futuros. E se o presidente Obama for um idealista tal qual a nova presidente dos EUA em 24 Horas? E se ele justificasse a invasão de um país cujos cidadãos sofrem nas mãos de um ditador?

Fica aí a nova discussão. Embora fique também uma ótima série de ação e drama, para o simples entretenimento =)

sábado, 22 de novembro de 2008

Trodonte - Mitologia

No nada infinito, sem começo nem fim, flutua Agox. Imóvel, o mesmo tem a forma de um saurópode negro. É eterno, mas não por ser imortal. Agox transcende a vida, a morte e o próprio tempo.

Agox representa a inexistência possível e impossível. Os sonhos, o futuro e tudo que possa ser inventado ou um dia existir residem nele.
Sobre as escamas de Agox, minúsculo em comparação, caminha seu irmão Gox, também um saurópode solidamente negro. A diferença de grandeza é tremenda, tal que o último vaga nos sulcos das escamas do primeiro, como se estas formassem vales grandiosos. A grande caminhada de Gox sobre seu irmão não tem começo ou fim. Esporadicamente, Gox arranca um naco de carne de seu irmão, engolindo-o rapidamente.
Gox representa o universo, e tudo aquilo que existe. A Caminhada de Gox representa o contínuo do tempo, enquanto que os caminhos que o dinossauro escolhe nos sulcos das escamas de seu irmão representam todas as possibilidades. O ato de arrancar partes de seu irmão representa a renovação das coisas reais, com a matéria do irreal.
Há tempos incalculáveis, nasceram por brotamento e em suas costas os dois primogênitos de Gox: Ordox e Caox. Ambos tinham, a princípio, formas de prossaurópodes. Ordox, porém, escolheu mudar sua forma para a de um trodonte (muito antes da existência dos trodontes). Enquanto isso, Caox escolheu regredir à forma de um saurópode.

Ordox é a ordem, o progresso e o desenvolvimento de todas as coisas. Caox é a desordem, a destruição e a involução de todas as coisas, mas também pode ser interpretado como a constância.

Após os primogênitos, Gox gerou, também por brotamento, mais quatro prossaurópodes. Eram estes os quatro elementos primordiais: Piros (o fogo), Lithos (a terra), Aeros (o ar), e Hidros (a água).

Os seis irmãos vivem nas costas de Gox, o qual não cessa sua caminhada.

Desde o nascimento conjunto, os irmãos primogênitos Ordox e Caox se completavam. Ordox criava seres, sensações, monumentos e outras tantas coisas fabulosas e impensáveis por qualquer trodonte da época moderna (mas nunca imprevistas por Agox, que na verdade era a fonte de todas essas coisas). Caox, por sua vez, tinha a tarefa inata de destruí-las, uma por uma, reduzindo-as ao nada como se nunca tivessem existido. Os irmãos permaneciam neste ciclo, aparentemente perfeito e equilibrado.

Porém, num dado momento, Ordox convenceu-se que, na verdade, não havia um equilíbrio. Que, na realidade, havia a constância do ciclo construção-destruição em si. Decidido, dominou seu irmão, imobilizando-o e prendendo-o ao chão.

Desde que Ordox imobilizou Caox, os dois permanecem praticamente parados. O tempo sem se mexer fez com que Ordox, o único com os pés no chão, criasse raízes que penetraram fundo nas costas de Gox. E foi isso que possibilitou, a princípio, o desenvolvimento do planeta, da vida e da civilização trodonte.

[continua]

PS.: Me desculpem pelos nomes ridículos, não tive tempo (ou saco) pra procurar (ou pensar em) nomes legais. Mas fica aí a idéia.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

24: Redemption

Trailer do tele-filme que marca o retorno de 24 Horas, depois de um ano e meio fora da TV.

sábado, 25 de outubro de 2008

Os fins da evolução

Quando o blog tinha apenas alguns posts, lembro-me de citar que haviam quatro grandes questões (ou seriam mistérios) que o ser humano talvez nunca "solucione". A saber: a existência, a vida, a inteligência e o amor.
Refletindo um pouco sobre a questão da inteligência (a consciência, para ser mais exato), me veio a seguinte indagação: será que esta não faz parte do segundo mistério, a vida? Porque a inteligência nada mais é que um mecanismo que a evolução encontrou para perpetuar a vida. Apenas um dos acasos, dentre tantos outros, que surgiram para que as formas de vida fossem cada vez mais evoluídas e adaptadas ao ambiente, mesmo que em constante mudança. Com a diferença que a inteligência é bem mais intrigante que mesmo um par de pulmões para um peixe que dá seus primeiros passos em terra firme - talvez isso valide a questão, novamente. Mas de todo mundo, não deixa a inteligência de fazer parte do mistério da vida.
Porém, o que eu quero discutir aqui, hoje, não é especificamente isso. É a validade daquilo que chamamos de evolução. Justamente a inteligência nos dá, supostamente, a posição no topo da cadeia evolutiva.
Porém, vamos imaginar outra situação. Na história que eu estou tentando escrever nos últimos tempos, Trodonte, tento imaginar uma sociedade em que uma espécie de dinossauro evoluiu para uma criatura consciente. Na época desses dinossauros, havia predadores terríveis, muito maiores que quaisquer outros do nosso tempo. Não que necessariamente o tamanho fosse algo que importasse, mas será que poderia haver um predador tão mortífero e eficaz, que nem mesmo uma espécie inteligente teria condições de competir com ele (e se desenvolver tecnologicamente), sendo até mesmo dizimada pelos indivíduos de sua espécie? Não seria essa, então, a espécie dominante, num dado momento? Ou será que a inteligência sempre predominaria, mesmo que sobre a força de um predador, por mais colossal que fosse?
Mais um caso que podemos analisar: dos insetos vivendo em sociedade. Esse tipo de comportamento, a convivência em sociedade, não muda há centenas de milhões de anos. Não seria esse mais um topo da cadeia evolutiva? É curiosa a capacidade de comunicação das formigas, por exemplo, em que as informações são transmitidas pelos membros de uma colônia, um a um, de maneira muito rápida e eficiente. É extremamente interessante comparar esse funcionamento da colônia com o de um ser humano. Não somos grandes colônias de células, afinal?
E por último, conforme eu discuti num dos primeiros posts do blog, a respeito dos robôs que podiam imitar o mecanismo da vida, se replicando e até mesmo evoluindo. Imaginemos que seja possível criar os tais nano-robôs, e que estes se alimentassem unicamente de energia solar - a fonte primordial de praticamente todas as formas de energia da crosta terrestre. Dado que nós também, mesmo que indiretamente, nos utilizemos dessa energia (afinal, comemos plantas e animais que comem plantas, e nem é preciso dizer que elas "acumulam energia" por meio da fotossíntese), não seria esse mais um passo nos caminhos da evolução? Seriam então esses robôs não só formas de vida, mas as formas perfeitas de vida? E não seríamos nós, então, apenas marionetes dos processos de evolução?

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Vítimas de muitos erros?


São 00:05 aqui no relógio do PC quando eu começo a escrever este post, e estou acompanhando pelo site do UOL as últimas notícias do caso da menina seqüestrada. A manchete diz que ela ainda está em estado gravíssimo.
Geralmente não sou de ficar indignado com esses casos, mas admito que fiquei com um pouco de raiva do seqüestrador, principalmente após sair do banho e saber, também pelo site do UOL, que o governo tinha anunciado que a menina tinha morrido (informação que depois foi desmentida). Acho que aquele desejo de que o criminoso pague, às vezes com a própria vida, é natural em grande parte de nós, após alguma atrocidade cometida. Afinal, se não morrer, é provável que a menina fique com seqüelas; sem falar da amiga, que também foi ferida.
Mas não quero discutir aqui nada de maneira passional. Quero discutir o que teria sido o mais certo a se fazer antes desses infelizes desdobramentos.
Vi uma matéria que destacava os três tipos de seqüestradores mais comuns: o terrorista, inexistente por aqui, que está sempre disposto a ir até o final; o bandido, que está disposto a negociar; e o sujeito emocionalmente abalado (o caso em questão), que é instável. Me pareceu uma classificação conveniente.
A ação da polícia foi a mais correta? Não sei se o seqüestrador chegou a se mostrar na janela por tempo suficiente, mas se chegou, não seria o caso de atirar nele com um rifle de precisão? Que eu me lembre, eram 6 atiradores posicionados, creio que estavam atentos à janela, a fim de aproveitar qualquer oportunidade.
Sei que a polícia num caso desses faz uma escalação dos níveis de prioridades, das vidas dos elementos em questão. Em primeiro lugar estão os reféns, ou seja, qualquer coisa que ponha a vida dos reféns em risco deve ser impedida. Em segundo lugar, estariam os bandidos e, em terceiro, os policiais (sim, pode ser estranho, mas se não me engano, os policiais devem colocar a vida do bandido acima de suas próprias). Claro que isso tudo é o ideal, e na prática as coisas são muito diferentes (principalmente na parte dos policiais colocarem suas vidas abaixo das dos bandidos).
É aí que vem meu ponto. As coisas são muito diferentes na prática. Se existe um manual, por que ele não é seguido? O exemplo gritante no caso é o retorno da amiga da ex-namorada ao cárcere privado, algo inconcebível. Tenho certeza que existem regras explícitas quanto a isso na parte de "Como agir em seqüestros" do manual da polícia.
Imagino, então, se os policiais não teriam pensado algo do tipo: "Não vamos arriscar abater o seqüestrador, vamos tentar tirar a menina na base da negociação". Não estou aqui subestimando o valor da negociação, mas será que a polícia não acabou "indo só no bom senso", descartando qualquer possibilidade de invasão prévia ou atirar no seqüestrador.
Por mais que a invasão (ou mesmo atirar no seqüestrador quando aparecesse na janela), previamente, pudesse parecer algo muito arriscado, a negociação também o é, principalmente no caso do seqüestrador desequilibrado. O que eu questiono é se a polícia não estaria usando o bom senso apenas, ignorando qualquer tipo de código. O que é muito feito nesse país, em todas as áreas imagináveis.
São 01:02, e a menina continua no mesmo estado. Não sou o dono da verdade, mas queria ser por um momento, só para saber se a polícia foi realmente incompetente nesse caso.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sem pobreza e, ainda, com liberdade


Após a queda do Muro de Berlim, seguiu-se uma década em que alguns poderiam declarar o seguinte: "A humanidade finalmente está unida e em paz; podemos nos concentrar nos problemas que temos como civilização".
Claro que essa linha de pensamento não durou muito, dado os ataques de 11 de setembro - até hoje, as manchetes sobre o terrorismo não deixam os jornais. Mas o sentimento de unidade da humanidade, mesmo que intermitente, prevalesce. Talvez sintamos que somos capazes, agora, de resolver nossos problemas universais.
Dentre tantos problemas que temos, sempre prevalescerá o da pobreza no mundo. É, e talvez por muito tempo continue a ser, o primeiro da lista.
O que gera a pobreza? Os recursos produzidos pela humanidade hoje, graças aos avanços técnicos e científicos, são muito superiores àqueles produzidos há um século. Entretanto, essas riquezas permanecem muito desigualmente distribuídas, fazendo com que uma grande parcela da população fique abaixo da linha da pobreza.
Uma solução possível para o problema seria dividir tudo de maneira absolutamente igual, entre todos. Entretanto, surge uma nova questão: o velho conflito da vida contra a liberdade. No caso, a liberdade de enriquecer.
Vida e liberdade são dois direitos que entram diversas vezes em conflito. As questões do aborto e da "segurança vigiada" ilustram bem isso. Embora possa parecer muito materialista (e é a segunda vez que digo isso este mês), devemos nos perguntar se estamos dispostos a abrir mão de nossa liberdade de enriquecer, em prol do direto à vida de todos, quando decidimos por essa opção.
Pessoalmente, acredito que há uma maneira de agradar tanto a gregos quanto a troianos. Somos privilegiados de viver numa época em que, talvez, a educação seja nosso principal meio de produzir riqueza. Se dermos educação a cada ser humano de maneira justa, estaremos permitindo que cada um tenha suas oportunidades de produzir o suficiente para sobreviver e, se assim quiser, também enriquecer.
Temos que ser o mais produtivos possíveis. No caso específico do Brasil, temos que elevar novamente o sistema público de educação ao nível que tínhamos há 40 anos. Não podemos aceitar nada menor do que a eficiência máxima: por exemplo, terras não podem ficar paradas, sem produzir. As atividades que se mostram mais produtivas para a sociedade devem ser incentivadas. Sempre menciono uma comparação que cabe agora, do Brasil com o Japão: o primeiro possui 8% de seus formandos engenheiros, enquanto o segundo, 25%. E há MUITO trabalho a se fazer no campo. Trabalho que só traz benefícios para a sociedade como um todo.
Desonestidade e incompetência são os verdadeiros luxos aos quais não podemos nos submeter, se quisermos acabar com o problema da pobreza.
E então passaremos para o próximo item da lista: o meio ambiente.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O valor de uma vida humana


Imagine que duas pessoas estão correndo risco de vida, e que você só possa salvar uma delas. Quem você salvaria? Que características afetariam sua escolha?
É claro que, se esse experimento mental que estamos fazendo fosse real, a escolha seria muito mais afetada pela tensão do momento, e pelas nossas instáveis emoções. Esse não é o ponto do texto. Quero pensar em qual seria a melhor decisão racional num caso desses, a decisão não afetada pelo calor do momento.
O senso comum nos diz que, na maioria dos casos imagináveis (em termos de combinação de nossas duas "vítimas") é uma decisão extremamente cruel, que muitos optam por não fazer. De fato o é. Exceto para alguns casos, por exemplo, o que estão envolvidos uma criança e um adulto (a prioridade acaba se tornando a criança, segundo nossos valores éticos e morais), qualquer escolha de parâmetro de diferenciação pode ser considerado equivocado. Pensando num caso parecido: se um idoso e um adulto corressem risco de vida, quem você salvaria? Quem defendesse o salvamento do idoso poderia alegar que ele deve ser priorizado justamente pela sua idade avançada; quem defendesse o salvamento do adulto, poderia sugerir que o idoso estaria próximo da morte, e o adulto "teria mais vida pela frente".
Eu acredito que os valores que geralmente são considerados são muito subjetivos, e justamente por isso entram tanto em conflito. O que eu quero sugerir é: seria possível determinar valores para as vidas das pessoas, a fim de tornar essa análise "mais fácil"? Em suma, seria possível determinar o valor de uma vida humana?
Mas que parâmetros seriam utilizados nessa determinação?
Embora isso possa parece assustadoramente materialista, o que eu sugeriria (mas não exatamente defenderia) como variável para determinar o valor da vida de uma pessoa giraria em torno do quanto ela pode produzir. Não só no tempo presente, mas durante toda a sua vida futura.
Lembrando novamente do pensamento racional no caso, então estamos ignorando, de certa forma, nossos valores éticos e morais - só porque eles entram exageradamente em conflito num caso desses. As duas pessoas que estão "em perigo" em nosso exercício não tem nada a ver com nós. Qual seria a única influência dessas pessoas em nossas vidas? Poderíamos entender que estas pessoas apenas influenciam a sociedade em que vivemos, com aquilo que elas produzem. Elas são "apenas" duas adições diferentes ao PIB do nosso país, todo ano.
Se seguirmos essa linha de pensamento, poderíamos fazer algumas comparações, indo para diversos pontos.
O primeiro seria a comparação entre a criança e o adulto - a criança ganha pois tem muitos anos de vida mais pela frente (probabilisticamente falando) que o adulto. Ou seja, ela pode produzir mais para a sociedade em geral, em termos absolutos, que o adulto, que já produziu parte do que poderia produzir em sua vida. Entretanto, se pensarmos a curto prazo, o adulto produz mais que a criança, que ainda precisa completar sua formação (ou mesmo tê-la) até ser produtivo para a sociedade.
Outro caso, mais polêmico, seria comparar uma pessoa instruída, com outra não instruída. A pessoa com, vamos supor, um diploma acadêmico, seria teoricamente mais produtiva que aquela que só tivesse o Ensino Fundamental completo. Poderíamos usar o salário desses indivíduos como indicador do quanto ela pode produzir para a sociedade (embora isso possa não ser muito preciso). Não se trata de um pensamento elitista - se vivêssemos num mundo ideal, com as mesmas oportunidades para todos, aqueles que tivessem mais quantidade de conhecimento acumulado (ou seja, pudessem produzir mais para a sociedade como um todo), ainda assim teriam suas vidas "valendo mais".
Se compuséssemos todas essas considerações (o que é bem difícil), teríamos um modelo de quanto valeria a vida de cada pessoa. Baseando-se em quantos anos de vida ela tem (e, complementarmente, quanto tem pela frente, fazendo uma análise probabilística de sua vida futura), na quantidade de conhecimento acumulado, no seu estilo de vida, etc, poderíamos criar esse modelo, tudo girando em torno do que essa pessoa é capaz, no futuro, de gerar para a sociedade.
Essa análise pode parecer demasiado fria (e na verdade é), mas me pergunto se pensar assim não estaria "em vigor", sem nos darmos conta disso. Lembro-me de um caso que exemplifica bem essa linha de pensamento.
Durante a Primeira Guerra Mundial, surgiram os primeiros aviões de combate (e isso pouco tempo depois do avião ser inventado). Os pilotos não tinham nenhuma forma de ejetar dos aviões caso estivessem prestes a cair. Hoje em dia, para os pilotos de caças, esse sistema é bastante comum. O que mudou? Os generais e engenheiros militares tornarem-se mais conscientes? Na verdade, o que aconteceu é que houve uma valorização grande do piloto - enquanto qualquer um seria capaz de pilotar uma das máquinas voadoras do começo do século 20, um caça exige anos de estudo e treinamento. As autoridades não podem se dar ao luxo de perder um piloto de caça - ele é experiente demais. Há valor agregado à ele, pelos conhecimentos adquiridos. É possível traçar um paralelo com o caso do indivíduo instruído e o não instruído a partir dessa situação.
O que quero, com esse texto, não é defender a adoção desses parâmetros para definir o valor da vida das pessoas. É apenas pensar se não faria sentido esse raciocínio, de certa forma.

sábado, 27 de setembro de 2008

A justiça da armadilha


Assim como nunca desmaiei, também nunca fui assaltado. Não sei se tomo algum cuidado em especial, mas felizmente, isso nunca me aconteceu. E se acontecesse, não sei o que iria fazer. Se por um lado ia tentar deixar o assaltante o mais calmo possível – embora não pareça, muitas mortes acontecem mais por causa do nervosismo do bandido do que pelo da vítima – também acho que tentaria convencer ele a não levar coisas como meus documentos ou o MP3 player.

Mas algo que eu sentiria depois de ser assaltado, com certeza seria indignação. Creio que todos que já foram assaltados tenham ficado com uma extrema raiva do ladrão, seja por ele ter levado uma grande quantia, seja pelos problemas que ele causou ao levar também os documentos (coisa que não é rara), seja pela injustiça do crime em si. E acompanhada dessa raiva, vêm o desejo de justiça (ou seria vingança?).

Isso me lembra outra situação, ilustrada por uma foto que circulou (e talvez até circule ainda) pelos e-mails da vida há um tempo atrás. Supostamente, um ladrão tentou roubar algo pendurando-se num fio de alta tensão (não sei se eram os cabos em si). O resultado foi a carbonização completa de seu corpo.

Confesso que pensei “bem feito!”, como acredito que muitos que tenham visto a foto também tenham pensado. O bandido (supondo-se que a vítima realmente o era) não devia ter feito aquilo – o fez e pagou por sua transgressão com a própria vida. Embora não fosse esse o intuito da alta tensão do cabo, o ladrão acabou caindo numa armadilha.

O que é uma armadilha? Podemos entender a mesma como algo especificamente feito para capturar algo ou alguém, ou podemos entende-la como um mecanismo concebido para proteger algo ou alguém de um invasor ou agressor (talvez num sentido mais “RPGístico” da palavra). Mas, além desses dois significados, e se entendermos a armadilha como algo que possa fazer justiça?

Vamos supor outro caso. Uma cerca eletrificada no perímetro de uma propriedade. Não tenho certeza se esse tipo de proteção produz um choque que possa matar um invasor, mas suponhamos que sim. Se um bandido fosse vitimado por essa cerca ao tentar entrar na propriedade, alguém se levantaria em sua defesa? Eu acredito que não. O senso comum é que aquele sujeito não devia estar fazendo o que estava fazendo – se seguisse as leis, não teria morrido eletrocutado. Claro que devemos aqui abstrair o caso de, por exemplo, crianças correndo o perigo de se eletrocutar também.

Aonde quero chegar: a armadilha representa uma forma de justiça que parece perfeita. É a justiça feita à sua maneira, é como se você estivesse fazendo justiça com as próprias mãos, e totalmente dentro da lei. Além disso, é automática. E tudo isso “montado” antes do culpado ter um rosto e cometer o crime. Mas mais que isso, a armadilha talvez revele qual pena achamos correta apenas no nosso inconsciente.

A última suposição precisa de mais um exemplo. Vamos imaginar um criminoso qualquer, digamos um ladrão. E vamos pensar que temos que penaliza-lo, mas estando em diferentes níveis de decisão.

Primeiro, vamos nos situar como o executor desse bandido. Pode ser o clássico carrasco com o machado ou mesmo o doutor de jaleco, prestes a aplicar a injeção letal. Mas além disso, vamos imaginar uma sociedade teórica em que cabe ao executor a decisão final de matar ou não o culpado – apenas para dar todo o poder de decisão a nós mesmos. Pessoalmente, acho que é uma decisão muito difícil. Por mais que seja um criminoso, cabe a nós não só escolher se ele vive ou morre, mas efetivamente mata-lo.

Agora, passando para outro nível. Fazemos parte do júri popular que pode condenar esse criminoso. Não somos nós que efetivamente damos o que seria o “golpe final”, mas decidimos efetivamente se ele vive ou morre. A decisão não é tão difícil quanto no primeiro caso, mas ainda assim, pelo menos eu não tenho certeza do que faria.

No terceiro nível, somos o que somos fora de todas essas suposições, os cidadãos. “Você defende a pena de morte?”, é a pergunta que cabe nesse caso. Se entendermos os cidadãos como parte da sociedade, entenderemos que de certa forma estamos decidindo se o criminoso merece morrer ou não, simplesmente discutindo numa roda de amigos. Alguns diriam sim, outros ficariam indecisos – mas de fato, é mais fácil tender para a decisão de executar o criminoso que nas outras situações.

Finalmente, no caso da armadilha. O mecanismo da armadilha, do criminoso pagar automaticamente pela sua transgressão, nos livra de qualquer espécie de decisão (mas não podemos esquecer que, de certa forma, já decidimos pela execução ao “montar” a armadilha). Minha teoria é a de que a armadilha nos traz uma impessoalidade com relação ao bandido, que não temos nos casos antes descritos. Como eu já disse, não conhecemos sua face e ele nem cometeu o crime ainda. Além disso, nos justifica aplicar a pena de morte talvez até para um caso que não seja grave – o do ladrão invadindo a casa, por exemplo. E essas seriam, talvez, as respostas que acharíamos justas em nosso inconsciente para com aqueles que transgridem a lei.

sábado, 13 de setembro de 2008

Histórias perturbadoras

Eu nunca desmaiei. Pelo menos, não que eu me lembre. Logo, não saberia como é a sensação de desmaiar, e o que acontece antes. Teoricamente. Pois, por duas vezes, eu senti uma forte tontura, um enjôo e um mal-estar que, creio eu, seriam os "sintomas" que precederiam um desmaio.
Supostamente, tenho pressão baixa, e minha mãe sempre recomendou que eu levasse um pouquinho de sal comigo, para comer caso me sentisse tonto - coisa que ela vez, pois também tem o mesmo problema. Mais pela preguiça mas também pela teimosia, eu acho que nunca fiz isso, alegando para mim mesmo que foram apenas dois casos de quase desmaiar.

Pois bem. A primeira vez que eu quase desmaiei (ou penso ter quase desmaiado), eu estava no metrô, enquanto em estava de pé. No mesmo dia, ou pelo menos na mesma semana, um amigo meu da faculdade tinha me contado uma história grotesca, um caso médico, passado por seu pai, que exercia a profissão tão valorosa e que engenheiros normalmente nunca fariam. Não vou relatar o caso aqui, por motivos que eu explico a seguir. O mais estranho é que, na hora que ouvi a história, não fiquei angustiado, nem enojado - e foi logo depois de almoçar - apenas surpreendido pelo seu conteúdo.
Não me lembro como ao certo, mas me recordei do relato naquele momento, no metrô, voltando para casa. Este puxou uma outra história perturbadora, que tinha lido na internet (na verdade era uma notícia). E então, para minha surpresa, comecei a sentir uma ânsia. Na hora pensei: "Caramba... Essas coisas nunca me afetaram! Porque estou com nojo? Será que vou vomitar aqui, no meio do metrô?". De certa forma arrogante da minha parte, admito, pensar que essas histórias não me afetavam.
Foi então que, da ânsia de vômito, passei a me sentir cada vez mais tonto, e com calafrios, o que me deixou ainda mais surpreso. Em minha mente, decidia se falava ou não que estava me sentindo mal e que ia desmaiar. Bastante assustado, mesmo assim não falei nada. Até porque não faria diferençar falar "Vou desmaiar" e cair duro no chão do vagão, e não falar nada e cair do mesmo jeito.
No final das contas, acabei não desmaiando ali. O trem logo chegou na estação São Judas, estava perto quando aconteceu. Subi as escadas praticamente sem audição por uns 30 segundos - um efeito da tontura, provavelmente. Muito estranhos os barulhos exteriores quando você não ouve praticamente nada. Mesmo após o mal-estar, mantive meu passo.

A segunda vez que eu tive uma experiência parecida com essa foi essa semana. Embora não com a mesma gravidade, senti a ânsia e a tontura. Felizmente, estava eu em minha casa, do lado da minha cama, os olhos no monitor, assim como estou agora.

O que quase me fez desmaiar foi o conto que eu vou postar a seguir.

Semelhantemente como quando eu estava no trem do metrô, a história contém um caso grotesco, muito parecido, aliás, com a história contada pelo pai de meu colega.
Poderão me perguntar se eu gosto desse tipo de história. Não sou fã, mas também não tenho preconceitos. Sempre que falo sobre o filme Jogos Mortais, ressalto que não é a carnificina que me agrada - e sim a engenhosidade das armadilhas e o terror que uma pessoa sofreria por ter que se mutilar para salvar sua própria vida. Até defendo que os últimos filmes da série perderam um pouco desse terror psicológico, passando para o simples banho de sangue.

Achei esse conto por acaso. O que me levou a ler essa história, inclusive, foi a descrença de que "várias pessoas haviam desmaiado durante a leitura desse conto", segundo um blogueiro que havia postado esse conto. Não acreditei, e provei que ou faço parte de um grupo de pessoas mais sensíveis (o que eu assumiria sem problema nenhum), ou que a história é realmente incrivelmente perturbadora.

Falando um pouco sobre o autor e o conto em si. O nome do autor é Chuck Palahniuk, o mesmo responsável pelo roteiro de Clube da Luta, e o conto chama Guts, publicado no livro Haunted (Assombro).

A última coisa antes de postar esse conto aqui. Por um lado, quero ver se ele afetaria outras pessoas como me afetou. Mas por outro, não quero que ninguém desmaie por minha causa, principalmente se for um conhecido meu. Então por favor, peço seriamente que você pense bem antes de ler. Como eu já disse várias vezes, o conto é grotesco, e tem uma porção de situações angustiantes e perturbadoras. Sem mencionar a linguagem chula (que é o de menos). Agora, se decidir ler o conto, recomenda-se que você não faça interrupções até o final, e que não pule nenhuma parte. Eu li aqui em silêncio e até segurei o ar no comecinho, como dizia o autor (na minha arrogância de provar para mim mesmo que não era possível que um monte de pessoas tivesse desmaiado, que um texto não poderia ser perturbador a esse ponto). Mas mesmo assim, a tontura fez com que eu parasse por alguns segundos, e "passasse rápido" algumas pequenas partes, lendo sem atenção.

Espero que essas recomendações não tenham motivado a invés de alertar. Se aconteceu, me desculpem, não foi a intenção. Bem, aí vai.


Guts - Chuck Palahniuk
Inspire.

Inspire o máximo de ar que conseguir. Essa estória deve durar aproximadamente o tempo que você consegue segurar sua respiração, e um pouco mais. Então escute o mais rápido que puder.

Um amigo meu aos 13 anos ouviu falar sobre “fio-terra”. Isso é quando alguém enfia um consolo na bunda. Estimule a próstata o suficiente, e os rumores dizem que você pode ter orgasmos explosivos sem usar as mãos. Nessa idade, esse amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele está sempre buscando uma melhor forma de gozar. Ele sai para comprar uma cenoura e lubrificante. Para conduzir uma pesquisa particular. Ele então imagina como seria a cena no caixa do supermercado, a solitária cenoura e o lubrificante percorrendo pela esteira o caminho até o atendente no caixa. Todos os clientes esperando na fila, observando. Todos vendo a grande noite que ele preparou.

Então, esse amigo compra leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.
Como se ele fosse para casa enfiar um bolo de cenoura no rabo.

Em casa, ele corta a ponta da cenoura com um alicate. Ele a lubrifica e desce seu traseiro por ela. Então, nada. Nenhum orgasmo. Nada acontece, exceto pela dor.
Então, esse garoto, a mãe dele grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para descer, naquele momento.

Ele remove a cenoura e coloca a coisa pegajosa e imunda no meio das roupas sujas debaixo da cama.

Depois do jantar, ele procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as suas roupas sujas, enquanto ele jantava, foram recolhidas por sua mãe para lavá-las. Não havia como ela não encontrar a cenoura, cuidadosamente esculpida com uma faca da cozinha, ainda lustrosa de lubrificante e fedorenta.

Esse amigo meu, ele espera por meses na surdina, esperando que seus pais o confrontem. E eles nunca fazem isso. Nunca. Mesmo agora que ele cresceu, aquela cenoura invisível aparece em toda ceia de Natal, em toda festa de aniversário. Em toda caça de ovos de páscoa com seus filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma paira por sobre todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome.

As pessoas na França possuem uma expressão: “sagacidade de escadas.” Em francês: esprit de l’escalier. Representa aquele momento em que você encontra a resposta, mas é tarde demais. Digamos que você está numa festa e alguém o insulta. Você precisa dizer algo. Então sob pressão, com todos olhando, você diz algo estúpido. Mas no momento em que sai da festa….

Enquanto você desce as escadas, então - mágica. Você pensa na coisa mais perfeita que poderia ter dito. A réplica mais avassaladora.
Esse é o espírito da escada.

O problema é que até mesmo os franceses não possuem uma expressão para as coisas estúpidas que você diz sob pressão. Essas coisas estúpidas e desesperadas que você pensa ou faz.

Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais para serem discutidos.

Agora que me recordo, os especialistas em psicologia dos jovens, os conselheiros escolares, dizem que a maioria dos casos de suicídio adolescente eram garotos se estrangulando enquanto se masturbavam. Seus pais o encontravam, uma toalha enrolada em volta do pescoço, a toalha amarrada no suporte de cabides do armário, o garoto morto. Esperma por toda a parte. É claro que os pais limpavam tudo. Colocavam calças no garoto. Faziam parecer… melhor. Ao menos, intencional. Um caso comum de triste suicídio adolescente.

Outro amigo meu, um garoto da escola, seu irmão mais velho na Marinha dizia como os caras do Oriente Médio se masturbavam de forma diferente do que fazemos por aqui. Esse irmão tinha desembarcado num desses países cheios de camelos, na qual o mercado público vendia o que pareciam abridores de carta chiques. Cada uma dessas coisas é apenas um fino cabo de latão ou prata polida, do comprimento aproximado de sua mão, com uma grande ponta numa das extremidades, ou uma esfera de metal ou uma dessas empunhaduras como as de espadas. Esse irmão da Marinha dizia que os árabes ficavam de pau duro e inseriam esse cabo de metal dentro e por toda a extremidade de seus paus. Eles então batiam punheta com o cabo dentro, e isso os faziam gozar melhor. De forma mais intensa.

Esse irmão mais velho viajava pelo mundo, mandando frases em francês. Frases em russo. Dicas de punhetagem.

Depois disso, o irmão mais novo, um dia ele não aparece na escola. Naquela noite, ele liga pedindo para eu pegar seus deveres de casa pelas próximas semanas. Porque ele está no hospital.

Ele tem que compartilhar um quarto com velhos que estiveram operando as entranhas. Ele diz que todos compartilham a mesma televisão. Que a única coisa para dar privacidade é uma cortina. Seus pais não o vem visitar. No telefone, ele diz como os pais dele queriam matar o irmão mais velho da Marinha.

Pelo telefone, o garoto diz que, no dia anterior, ele estava meio chapado. Em casa, no seu quarto, ele deitou-se na cama. Ele estava acendendo uma vela e folheando algumas revistas pornográficas antigas, preparando-se para bater uma. Isso foi depois que ele recebeu as notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como os árabes se masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa servir. Uma caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero. Mas escorrendo pelo canto da vela havia um fino filete de vela derretida que poderia servir. Com as pontas dos dedos, o garoto descola o filete da vela. Ele o enrola na palma de suas mãos. Longo, e liso, e fino.

Chapado e com tesão, ele enfia lá dentro, mais e mais fundo por dentro do canal urinário de seu pau. Com uma boa parte da cera ainda para fora, ele começa o trabalho.

Até mesmo nesse momento ele reconhece que esses árabes eram caras muito espertos. Eles reinventaram totalmente a punheta. Deitado totalmente na cama, as coisas estão ficando tão boas que o garoto nem observa a filete de cera. Ele está quase gozando quando percebe que a cera não está mais lá.

O fino filete de cera entrou. Bem lá no fundo. Tão fundo que ele nem consegue sentir a cera dentro de seu pau.

Das escadas, sua mãe grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para ele descer naquele momento. O garoto da cenoura e o garoto da cera eram pessoas diferentes, mas viviam basicamente a mesma vida.

Depois do jantar, as entranhas do garoto começam a doer. É cera, então ele imagina que ela vá derreter dentro dele e ele poderá mijar para fora. Agora suas costas doem. Seus rins. Ele não consegue ficar ereto corretamente.

O garoto falando pelo telefone do seu quarto de hospital, no fundo pode-se ouvir campainhas, pessoas gritando. Game shows.

Os raios-X mostram a verdade, algo longo e fino, dobrado dentro de sua bexiga. Esse longo e fino V dentro dele está coletando todos os minerais no seu mijo. Está ficando maior e mais expesso, coletando cristais de cálcio, está batendo lá dentro, rasgando a frágil parede interna de sua bexiga, bloqueando a urina. Seus rins estão cheios. O pouco que sai de seu pau é vermelho de sangue.

O garoto e seus pais, a família inteira, olhando aquela chapa de raio-X com o médico e as enfermeiras ali, um grande V de cera brilhando na chapa para todos verem, ele deve falar a verdade. Sobre o jeito que os árabes se masturbam. Sobre o que o seu irmãos mais velho da Marinha escreveu.

No telefone, nesse momento, ele começa a chorar.

Eles pagam pela operação na bexiga com o dinheiro da poupança para sua faculdade. Um erro estúpido, e agora ele nunca mais será um advogado.

Enfiando coisas dentro de você. Enfiando-se dentro de coisas. Uma vela no seu pau ou seu pescoço num nó, sabíamos que não poderia acabar em problemas.

O que me fez ter problemas, eu chamava de Pesca Submarina. Isso era bater punheta embaixo d’água, sentando no fundo da piscina dos meus pais. Pegando fôlego, eu afundava até o fundo da piscina e tirava meu calção. Eu sentava no fundo por dois, três, quatro minutos.

Só de bater punheta eu tinha conseguido uma enorme capacidade pulmonar. Se eu tivesse a casa só para mim, eu faria isso a tarde toda. Depois que eu gozava, meu esperma ficava boiando em grandes e gordas gotas.

Depois disso eram mais alguns mergulhos, para apanhar todas. Para pegar todas e colocá-las em uma toalha. Por isso chamava de Pesca Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha irmã para se preocupar. Ou, Cristo, minha mãe.

Esse era meu maior medo: minha irmã adolescente e virgem, pensando que estava ficando gorda e dando a luz a um bebê retardado de duas cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o tio. No fim, são as coisas nais quais você não se preocupa que te pegam.

A melhor parte da Pesca Submarina era o duto da bomba do filtro. A melhor parte era ficar pelado e sentar nela.

Como os franceses dizem, Quem não gosta de ter seu cú chupado? Mesmo assim, num minuto você é só um garoto batendo uma, e no outro nunca mais será um advogado.

Num minuto eu estou no fundo da piscina e o céu é um azul claro e ondulado, aparecendo através de dois metros e meio de água sobre minha cabeça. Silêncio total exceto pelas batidas do coração que escuto em meu ouvido. Meu calção amarelo-listrado preso em volta do meu pescoço por segurança, só em caso de algum amigo, um vizinho, alguém que apareça e pergunte porque faltei aos treinos de futebol. O constante chupar da saída de água me envolve enquanto delicio minha bunda magra e branquela naquela sensação.

Num momento eu tenho ar o suficiente e meu pau está na minha mão. Meus pais estão no trabalho e minha irmão no balé. Ninguém estará em casa por horas.

Minhas mãos começam a punhetar, e eu paro. Eu subo para pegar mais ar. Afundo e sento no fundo.

Faço isso de novo, e de novo.

Deve ser por isso que garotas querem sentar na sua cara. A sucção é como dar uma cagada que nunca acaba. Meu pau duro e meu cú sendo chupado, eu não preciso de mais ar. O bater do meu coração nos ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz começarem a surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das pernas esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus dedos ficando enrugados por estar tanto tempo na água.

E então acontece. As gotas gordas de gozo aparecem. É nesse momento que preciso de mais ar. Mas quando tento sair do fundo, não consigo. Não consigo colocar meus pés abaixo de mim. Minha bunda está presa.

Médicos de plantão de emergência podem confirmar que todo ano cerca de 150 pessoas ficam presas dessa forma, sugadas pelo duto do filtro de piscina. Fique com o cabelo preso, ou o traseiro, e você vai se afogar. Todo o ano, muita gente fica. A maioria na Flórida.

As pessoas simplesmente não falam sobre isso. Nem mesmo os franceses falam sobre tudo. Colocando um joelho no fundo, colocando um pé abaixo de mim, eu empurro contra o fundo. Estou saindo, não mais sentado no fundo da piscina, mas não estou chegando para fora da água também.

Ainda nadando, mexendo meus dois braços, eu devo estar na metade do caminho para a superfície mas não estou indo mais longe que isso. O bater do meu coração no meu ouvido fica mais alto e mais forte.

As brilhantes fagulhas de luz passam pelos meus olhos, e eu olho para trás… mas não faz sentido. Uma corda espessa, algum tipo de cobra, branco-azulada e cheia de veias, saiu do duto da piscina e está segurando minha bunda. Algumas das veias estão sangrando, sangue vermelho que aparenta ser preto debaixo da água, que sai por pequenos cortes na pálida pele da cobra. O sangue começa a sumir na água, e dentro da pele fina e branco-azulada da cobra é possível ver pedaços de alguma refeição semi-digerida.

Só há uma explicação. Algum horrível monstro marinho, uma serpente do mar, algo que nunca viu a luz do dia, estava se escondendo no fundo escuro do duto da piscina, só esperando para me comer.

Então… eu chuto a coisa, chuto a pele enrugada e escorregadia cheia de veias, e parece que mais está saindo do duto. Deve ser do tamanho da minha perna nesse momento, mas ainda segurando firme no meu cú. Com outro chute, estou a centímetros de conseguir respirar. Ainda sentido a cobra presa no meu traseiro, estou bem próximo de escapar.

Dentro da cobra, é possível ver milho e amendoins. E dá pra ver uma brilhante esfera laranja. É um daqueles tipos de vitamina que meu pai me força a tomar, para poder ganhar massa. Para conseguir a bolsa como jogador de futebol. Com ferro e ácidos graxos Ômega 3.

Ver essa pílula foi o que me salvou a vida.

Não é uma cobra. É meu intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim. O que os médicos chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo sugadas pelo duto.

Os médicos de plantão de emergência podem confirmar que uma bomba de piscina pode puxar 300 litros de água por minuto. Isso corresponde a 180 quilos de pressão. O grande problema é que somos todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o término da sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas entranhas até que chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada de 180 quilos e você vai perceber como isso pode acontecer.

O que eu posso dizer é que suas entranhas não sentem tanta dor. Não da forma que sua pele sente dor. As coisas que você digere, os médicos chamam de matéria fecal. No meio disso tudo está o suco gástrico, com pedaços de milho, amendoins e ervilhas.

Essa sopa de sangue, milho, merda, esperma e amendoim flutua ao meu redor. Mesmo com minhas entranhas saindo pelo meu traseiro, eu tentando segurar o que restou, mesmo assim, minha vontade é de colocar meu calção de alguma forma.

Deus proíba que meus pais vejam meu pau.

Com uma mão seguro a saída do meu rabo, com a outra mão puxo o calção amarelo-listrado do meu pescoço. Mesmo assim, é impossível puxar de volta.

Se você quer sentir como seria tocar seus intestinos, compre um camisinha feita com intestino de carneiro. Pegue uma e desenrole. Encha de manteiga de amendoim. Lubrifique e coloque debaixo d’água. Então tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme e ao mesmo tempo macia. É tão escorregadia que não dá para segurar.

Uma camisinha dessas é feita do bom e velho intestino.

Você então vê contra o que eu lutava.

Se eu largo, sai tudo.

Se eu nado para a superfície, sai tudo.

Se eu não nadar, me afogo.

É escolher entre morrer agora, e morrer em um minuto.

O que meus pais vão encontrar depois do trabalho é um feto grande e pelado, todo curvado. Mergulhado na árgua turva da piscina de casa. Preso ao fundo por uma larga corda de veias e entranhas retorcidas. O oposto do garoto que se estrangula enquanto bate uma. Esse é o bebê que trouxeram para casa do hospital há 13 anos. Esse é o garoto que esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e eventualmente um mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus sonhos e esperanças. Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele, gotas gordas de esperma.

Ou isso, ou meus pais me encontrariam enrolado numa toalha encharcada de sangue, morto entre a piscina e o telefone da cozinha, os restos destroçados das minhas entranhas para fora do meu calção amarelo-listrado.

Algo sobre o qual nem os franceses falam.

Aquele irmão mais velho na Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão russa. Do jeito que nós falamos “Preciso disso como preciso de um buraco na cabeça…,” os russos dizem, “Preciso disso como preciso de dentes no meu cú……

Mne eto nado kak zuby v zadnitse.

Essas histórias de como animais presos em armadilhas roem a própria perna fora, bem, qualquer coiote poderá te confirmar que algumas mordidas são melhores que morrer.

Droga… mesmo se você for russo, um dia vai querer esses dentes.

Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca um cotovelo por baixo do joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde e rói seu próprio cú. Se você ficar sem ar você consegue roer qualquer coisa para poder respirar de novo.

Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro encontro. Não se você espera por um beijinho de despedida. Se eu contasse como é o gosto, vocês não comeriam mais frutos do mar.

É difícil dizer o que enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação, ou como me salvei. Depois do hospital, minha mãe dizia, “Você não sabia o que estava fazendo, querido. Você estava em choque.” E ela teve que aprender a cozinhar ovos pochê.

Todas aquelas pessoas enojadas ou sentindo pena de mim….

Precisava disso como precisaria de dentes no cú.

Hoje em dia, as pessoas sempre me dizem que eu sou magrinho demais. As pessoas em jantares ficam quietas ou bravas quando não como o cozido que fizeram. Cozidos podem me matar. Presuntadas. Qualquer coisa que fique mais que algumas horas dentro de mim, sai ainda como comida. Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo intacto na privada.

Depois que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como essa, você não digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um metro e meio de intestino grosso. Eu tenho sorte de ainda ter meus quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa de jogador de futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais do que pesava aos 13 anos.

Outro problema foi que meus pais pagaram muita grana naquela piscina. No fim meu pai teve que falar para o cara da limpeza da piscina que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se afogou. O corpo sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu o filtro e removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, “Aquela porra daquele cachorro era maluco.”

Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia ouvir meu pai falar, “Não dava para deixar aquele cachorro sozinho por um segundo….”
E então a menstruação da minha irmã atrasou.

Mesmo depois que trocaram a água da piscina, depois que vendemos a casa e mudamos para outro estado, depois do aborto da minha irmã, mesmo depois de tudo isso meus pais nunca mencionaram mais isso novamente.

Nunca.

Essa é a nossa cenoura invisível.

Você. Agora você pode respirar.

Eu ainda não.

sábado, 6 de setembro de 2008

Trodonte - Capítulo 5


Zauros, provavelmente, era o nome mais comum que um indivíduo poderia ter na época da imponente civilização trodonte. Dentre os milhares de dinossauros cuja alcunha era essa, estava Zauros Raptori.

Zauros Raptori era um trodonte com escamas em grande parte marrons, e em razoável parte verdes. O brilho dessa derme denotava seus 16 anos de idade, completados não fazia um mês. Seu porte era esguio; seus músculos, nem muito grandes para que fosse considerado um brutamontes, nem muito pequenos de forma que não fosse chamado para carregar um grande peso.

O jovem se vestia, como a maioria de seus semelhantes, com roupas de couro de outros dinossauros, estes bestas grandiosas. As peles de pterossauros como o Pteranodon e pequenos mamíferos como o Megazostrodon eram uma exclusividade das elites, que tinham os meios e as ferramentas para extrair essas dermes de seus possuidores e, além disso, costurá-las de forma elegante.

Um costume típico dos trodontes era cobrir a cabeça com algo – um chapéu ou um turbante, que os individualizava tanto quanto os variados cortes de cabelo fariam com os seres humanos, dezenas de milhões de anos depois. E com Zauros Raptori não era diferente – ele usava um imponente chapéu de couro de dinossauro, com algumas marcas azuis (certamente, uma raridade, visto que apenas os dinossauros do extremo norte possuíam tal coloração). A concavidade esférica do acessório encaixava perfeitamente na cabeça, porém as abas seguiam linhas que formariam uma elipse, não fossem dois recortes em forma de arco em cada extremidade, que permitiam o repouso sobre as mandíbulas, caso o jovem eventualmente quisesse cochilar recostado numa conífera.

Zauros morava com seus pais e irmãos em uma grande fazenda de samambaias a alguns quilômetros da vila de Kwalish – uma cidade pequena para os padrões do reino de Écope. Seu pai era um ex-militar, perito em estratégias de guerra com grandes dinossauros. Sua mãe, enquanto isso, havia ajudado, a maior parte da vida, o avô de Zauros, a cuidar da fazenda. Já fazia em torno de 5 anos que o avô de Zauros, um caçador de dinossauros, havia falecido.

Foi o avô que despertou em Zauros o sonho de se tornar um caçador de dinossauros. O velho senhor, que possuía o mesmo nome de seu neto, havia ensinado-lhe os princípios básicos da caça, que o adolescente passou, e continuava passando a seus irmãos depois que ele morreu. Mas individualmente, Zauros não se contentou com o básico. Treinava todos os dias, sempre que tinha um tempo. Lia livros e mais livros com histórias e técnicas de grandes caçadores. Inclusive, andava dezenas de quilômetros, nas raras vezes nas quais podia, para conseguir as leituras que só se encontravam na grande capital.

Como tinha acabado do completar 16 anos, Zauros sabia que já estava pronto para entrar na Guilda dos Caçadores. Encontrava-se receoso por abandonar a família, mas seus pais haviam lhe dado certeza de que seus jovens irmãos, de 11 e 12 anos, podiam substituí-lo com os afazeres da fazenda.

As plantações de samambaia que a família cuidava eram uma herança do avô de Zauros. O caçador, que em vida era um integrante da Guilda, havia comprado aquele terreno assim que havia juntado dinheiro suficiente. Essa era, aliás, a motivação de muitos dos caçadores mais comuns – os lucros da caça poderiam ser rápidos, permitindo a estabilidade financeira para toda uma vida. No caso do avô de Zauros, o processo havia sido um pouco mais lento, mas assim que ele acumulou uma certa quantia de dinheiro, deixou a perigosa profissão.

Zauros, por sua vez, via a coisa de uma maneira diferente. O avô certamente gostava do que fazia, mas não gostava de assumir riscos. Zauros havia sido fascinado pelas caçadas, mesmo que poucas e de baixo risco, que tinha feito junto de seu avô. O jovem trodonte pensava, um dia, em viajar aos quatro cantos do mundo; em perseguir, junto a outros caçadores da Guilda, os mais ferozes e lendários dinossauros. Certamente não queria fama ou dinheiro – apenas a satisfação individual, a emoção de caçar os grandes dinossauros do Cretáceo.

Zauros Raptori estava prestes a começar sua jornada, que viria a ser profundamente diferente do que ele imaginava.

sábado, 30 de agosto de 2008

Existência

Bom, hoje não tenho nada muito preparado para falar sobre, então deixo pra vocês um vídeo que vi ontem, e achei muito interessante. É sobre uma maneira de imaginar as dez dimensões.

http://www.tenthdimension.com/medialinks.php

A primeira vez que ouvi falar que o universo não teria apenas quatro dimensões (as três espaciais e o tempo), mas sim dez, fiquei extremamente confuso e pensei "Nossa, nunca vou entender isso, deve ser algo muito complicado e teórico". E ontem, vi esse vídeo, que apesar de não conter a explicação "oficial" para a teoria das dez dimensões, tem bastante lógica (pelo menos nas partes que eu entendi), e é muito interessante.

Na verdade, depois de escrever o segundo post do blog, passei a pensar se não seriam as possibilidades a quinta dimensão, seguinte ao tempo. Várias linhas do tempo diferentes, cada uma contendo os desdobramentos de uma escolha ou possibilidade em toda a história do universo, comporiam essa dimensão. Mas no vídeo, pelo que eu entendi, o autor da idéia considera duas dimensões a partir desse conceito: a quinta seria composta de todas as linhas do tempo possíveis a partir do instante em que estamos, enquanto uma sexta dimensão considera todas as linhas do tempo possíveis a partir de qualquer momento da história do universo, o que não deixa de fazer sentido.

Continuando com o conceito que ele usa desde o começo, de imaginar todas as dimensões anteriores como apenas um ponto da dimensão seguinte, vem o conceito da sétima dimensão. "Nosso" ponto na sétima dimensão seria composto por todas as linhas de tempo possíveis desde nosso Big Bang, até o fim do universo. Um outro ponto nessa dimensão seria todas as possibilidades num universo que começasse de uma maneira diferente - com as regras da física diferentes, pelo que eu entendi. Por exemplo, um universo com fundo amarelo-gema por algum motivo. Daí, traçando uma linha entre os dois pontos, teríamos a sétima dimensão.

Nesse momento que não entendi ao certo como o autor concebe as oitava e nona dimensão. Acho que ele quer dizer que a linha que traçamos na sétima dimensão representa a diferença gradual entre os dois pontos que temos. As duas dimensões seguintes seriam talvez para outros parâmetros de diferenciação de condições iniciais? Não sei ao certo.

No final do vídeo o autor chega à décima dimensão novamente com um ponto, contendo todos os universos que possam ser iniciados, cada um contendo todas as linhas possíveis de se desdobrarem, cada linha com as dimensões espaciais e a temporal, da qual somos mais íntimos. E daí, não há mais para onde ir.

Se o universo, sua grandeza, beleza e mais tantos outros adjetivos já não fosse suficiente, temos aí algo ainda mais fascinante. Não haveria apenas as dimensões espaciais, não haveria apenas o tempo. Haveria uma infinitude de linhas do tempo possíveis a partir do momento em que estamos, e a partir de todos os momentos que já se passaram, respectivamente nas quinta e sexta dimensões. E isso só para nosso universo, ainda haveria aqueles que conseguimos ou não imaginar, nas sétima, oitava e nona dimensão, baseando-se em condições diferentes para seus inícios.

Seria então a existência o topo de tudo, no final das contas?

sábado, 23 de agosto de 2008

Engenheirices II - O MASP e a pilha de livros na horizontal



Pouca gente sabe, mas o MASP, na avenida paulista, possui um dos maiores vãos de estrutura sustentada por concreto protendido do mundo: 74 metros, de pilar a pilar.

Mas antes de falar do concreto protendido que sustenta o vão do MASP, temos que falar do concreto armado. Qual o princípio do concreto armado?

Primeiro vejamos o que aconteceria se uma viga, sustentada por dois pilares, fosse feita somente de concreto.

Na imagem superior, temos uma concepção simplificada da viga e dos dois pilares, sem nenhuma deformação. Na figura seguinte, podemos ver como fica a estrutura (com dimensões exageradas e totalmente fora de escala), quando se considera o peso dela mesma (e eventualmente o peso de sua destinação). Essa deformação é intuitiva – quanto mais próximo do centro, maior ela será.

Se pararmos para pensar, a parte de baixo da viga agora está mais alongada do que originalmente, enquanto a parte de cima está menos alongada. A parte de baixo foi “esticada”, enquanto a parte de cima foi “apertada” – isso nada mais é do que tração e compressão, respectivamente! Ou seja, os esforços sobre a viga produziram esse efeito interessante de curvatura.

Para a parte superior dessa viga não há problema, mas a parte inferior vai rachar transversalmente – o concreto não responde bem à tração. O que é feito para conter isso, então? Simples: colocar uma armação – a chamada armadura – de aço na parte inferior da viga antes de concretar a mesma. Tem-se então a viga de concreto armado.

O aço, que resiste à tração, dará conta das forças no que se chama de fibras inferiores da viga.

Agora, a arquitetura do MASP foi concebida com um vão muito grande, um recorde mundial, como já foi dito acima. Os grossos pilares da estrutura sustentam o seu peso, uma força na vertical, facilmente, mas não é aí que está o problema. O problema está no centro da laje, que romperia se fosse apenas de concreto. Mesmo se fosse de concreto armado, o aço não agüentaria as forças de tração que seriam geradas nas fibras inferiores – ou então até agüentaria, mas a quantidade que seria usada numa estrutura de concreto armado para sustentar o MASP seria economicamente inviável, já que as barras são muito caras.

A solução mais lógica e moderna é o uso do concreto protendido. O princípio do concreto protendido é simples: ao invés de se colocar barras de aço, colocam-se cabos de aço previamente tracionados (“esticados”). A disposição dos cabos pode ser vista dentro da viga abaixo:

Os cabos tracionados “apertam” o concreto a partir das extremidades da viga (esse é apenas um dos métodos de protensão, os outros eu não vou explicar aqui por falta de tempo), deixando ele previamente comprimido – sem problemas, o concreto resiste bem à compressão. O peso próprio da viga, e a ação das cargas acidentais (as cargas que ocorrem de maneira variada ao longo do tempo: as pessoas que caminham sobre a estrutura, as obras de arte, etc) continuam executando suas forças de tração na parte inferior da viga da mesma maneira que explicado acima, para a viga de concreto armado; mas agora, temos as forças de compressão dos cabos de aço para equilibrá-las. Com tração e compressão se opondo nas fibras inferiores, chegamos à resultante das forças: zero.

Uma analogia simples para esse método genial, é o modo como é possível segurar uma grande pilha de livros na horizontal: se “apertarmos” eles com uma força suficiente com as mãos, estaremos fazendo o mesmo que os cabos de protensão fixados nas extremidades das vigas, e os livros não cairão.

sábado, 16 de agosto de 2008

Engenheirices I - A ponte pênsil e o trem-bala

Bom, esse é o primeiro post de uma série não-seqüencial de alguns sobre coisas, fatos, histórias e relatos que eu eventualmente achei incrivelmente interessantes da engenharia civil, e que eu gostaria de compartilhar aqui com vocês.

Começo então com uma pergunta: por que um trem-bala não pode atravessar uma ponte pênsil em alta velocidade?

Primeiro, vou explicar como funciona uma ponte pênsil. Não é nada muito complicado e eu me surpreendi com a genialidade e simplicidade no funcionamento dessa estrutura.

Antes das primeiras pontes pênseis, a construção de uma estrutura que atravessasse um rio era extremamente complicada e dispendiosa. Devia-se erguer diversos pilares para sustentar a ponte, e além disso, às vezes era preciso efetuar as fundações em solo mole, em alguns casos instável. O vão (distância entre lances de pilares consecutivos) possível de ser atingido era consideravelmente pequeno.

Isso ocorria, principalmente, porque nas pontes antigas se contava com a resistência à compressão (o ato de exercer forças contrárias “esmagando” o material) dos materiais (concreto, pedras, tijolos). Todos eles, principalmente o concreto, são bastante resistentes à compressão, mas chegou-se num ponto que mesmo essa alta resistência não era suficiente para as distâncias que as pontes e a profundidade dos pilares das mesmas tinham que ultrapassar (fazer um grande número de pilares, e todos eles muito grossos para resistir ao próprio peso e ao da ponte em si, se tornava extremamente caro).

Já o aço apresentava-se como uma opção alternativa ao concreto. Comparando em termos de tração (o ato de exercer forças contrárias “rompendo” o material), o aço é incrivelmente superior ao concreto. Ou seja, um cabo, ou mesmo uma barra de aço, sustentaria uma carga pendurada nela, enquanto uma coluna de concreto não agüentaria a mesma carga. Na realidade, o aço também é mais resistente à compressão que o concreto – só que nesse caso, você precisa de uma área considerável de aço, o que acaba tornando inviável o uso do material devido a custos, o concreto se torna uma opção bem mais barata.

Em resumo: o aço é conveniente quando é só puxado, enquanto o concreto é conveniente quando é só comprimido.

A ponte pênsil é a expressão dessa eficiência, de cada material trabalhando do melhor jeito possível.


Analisando esse desenho, é possível ver como a ponte funciona. Cada um desses retângulos representa uma seção do tabuleiro, o “corpo” da ponte. Essas seções são sempre comprimidas pelas suas “vizinhas” na direção horizontal. Já com os cabos (que só transmitem esforços nas suas direções), vejamos o que acontece:

As forças em vermelho são apenas representativas, sendo decompostas nas direções x e y (vetores em preto).

O cabo mais à direita, na horizontal, está sendo tracionado. O cabo na vertical, que sustenta (também sendo apenas tracionado) uma seção da ponte, transfere sua carga: parte dela vai para o cabo na horizontal, e parte vai para o cabo inclinado (setas para baixo). A força que o cabo inclinado faz (em vermelho, e na sua própria direção!) resulta numa reação no cabo na horizontal, que equilibra tanto a parte da carga que veio da ponte quanto a força horizontal.

No lance seguinte de cabos, inclinado, acontece a mesma coisa. As forças são equilibradas pelo próximo lance, que está ligeiramente mais inclinado. E assim por diante.

Muitos lances depois, temos o resultado final: os cabos em arco da ponte pênsil. As forças (na vertical – as forças na horizontal são equilibradas pelos cabos do outro lado!) são transferidas para os grandes pilares da estrutura.

Agora, por que o trem-bala não pode atravessar a ponte pênsil em alta velocidade. Dado o caráter da ponte, do concreto funcionar à compressão e os cabos de aço funcionarem apenas à tração, as seções do tabuleiro não são perfeitamente rígidas, e sim vinculadas por articulações (a natureza dessas articulações é algo muito curioso também, mas que infelizmente não vai dar tempo de explicar agora). Ou seja, todo o tabuleiro é, à grosso modo, como se fosse uma “ponte de plaquinhas” ligadas como dobradiças.

Se o trem-bala passasse a toda velocidade, o próprio peso do mesmo faria as seções “afundarem”, mesmo que só um pouco. Mas seria o suficiente para o trem se arremessar na inclinação gerada por ele mesmo, se estivesse numa velocidade muito alta, característica do veículo.

sábado, 9 de agosto de 2008

Acelerador do fim do mundo

A ativação do LHC, o Large Hadron Collider (o maior acelerador de partículas do mundo), foi adiada, então a discussão continua: vale a pena liga-lo? Correr um risco, mesmo que infinitesimal, de toda a Terra ser destruída?


No campo da ficção, sempre achei um assunto interessante as eventuais ameaças que poderiam afetar toda a humanidade, ou até mesmo a Terra. Os exemplos mais comuns: o “comuníssimo” holocausto nuclear (talvez a ameaça mais real pela qual passamos nesse sentido), a queda de um meteoro que tornasse impossível a vida no planeta, e a criação/evolução de um vírus/bactéria/parasita mortal que provocasse uma epidemia de proporções globais. Todas essas possibilidades me deram a idéia, inclusive, de escrever uma história na seguinte linha: e se todas essas ameaças se apresentassem paralelamente à humanidade?

Foi então que eu comecei a escrever o texto intitulado “Apocalipse Múltiplo”, com uma história se passando em 2060, com a Terra sendo devastada pela guerra nuclear, por epidemias, mudanças climáticas drásticas, entre outros pesadelos da raça humana.

Como esse texto seria mais uma homenagem a essas formas mais comuns (e talvez mais exploráveis) da destruição da humanidade, e também aos filmes que se baseiam em cada uma delas, muita coisa interessante acaba ficando de fora.

Um texto muito curioso que relata dezenas de formas do mundo acabar (das mais comuns até outras muito irreais, como por exemplo: todas as moléculas da Terra deixarem de existir ao mesmo tempo!) com detalhes, pode ser visto no seguinte link (está em inglês):

http://qntm.org/?destroy

Mas enfim, voltando ao assunto do LHC: o grande problema do acelerador de partículas é que ele pode criar um buraco-negro, que eventualmente engoliria toda a Terra. Também há a possibilidade da criação de matéria estranha, que, em contato com outros tipos de matéria, as transformaria também em matéria estranha, gerando uma reação em cadeia com proporções catastróficas.

Qual seria a probabilidade desses acontecimentos catastróficos se concretizarem? O blog que li que me impeliu a escrever sobre o assunto relatava uma chance de 0,01% do acelerador de partículas criar o tal buraco-negro. Porém, o autor do blog provavelmente se enganou, não considerando que esse micro-buraco-negro criado se evaporaria rapidamente.

Apesar de não ser um profundo conhecedor do assunto, sei que essa chance de 0,01% seria muito grande para que até se cogitasse a ligação do acelerador. Provavelmente, as chances reais de “destruição da Terra” (embora sejam difíceis as previsões nessa área), seriam realmente infinitesimais.

Mas a questão continua sendo a mesma, afinal, a diferença entre uma chance infinitesimal e a certeza de que não ocorrerá nada é grande.

Talvez seja, no final das contas, apenas uma questão de números. Pelo que eu conheço da engenharia, tudo que é construído leva em conta a probabilidade de algo dar errado – sempre há a chance do desastre.

Por exemplo, na área da construção civil (que aliás é a minha área). Quando um prédio é estruturado, o concreto armado que o sustenta é feito com uma resistência tal que esta suporte todas as cargas solicitantes do prédio (que daí variam com relação ao seu uso – uma biblioteca, por exemplo, apresenta uma solicitação muito grande). É claro que, para os cálculos, as cargas de solicitação são majoradas (multiplicadas por um coeficiente), enquanto as resistências dos materiais solicitados são minoradas (divididas por um coeficiente). Afinal, sempre há a possibilidade de haver uma carga maior que a média prevista, assim como há a possibilidade do concreto produzido para sustentar um prédio apresentar uma resistência menor que a média calculada.

Só que, mesmo depois de tudo isso, ainda existe a probabilidade, de se ter produzido um concreto tão ruim para a sustentação, e as cargas serem altas muito além do previsto, ocorrendo a ruína da construção. Claro que essa probabilidade é muito pequena (provavelmente bem menor que a suposta de 0,01% do colisor de hádrons destruir a Terra), e lembrando que aqui estamos falando de apenas algumas vidas perdidas no desmoronamento de um edifício, em comparação com a destruição de toda a humanidade.

O que governa o estabelecimento dos coeficientes usados na construção civil e, similarmente, em outras áreas, é a diminuição das probabilidades de ocorrer um acidente.

Mas o que entra nessas determinações também, é a viabilidade econômica dos empreendimentos. Passando para outro exemplo: à época do lançamento da Apollo 11, as chances de uma falha que provocasse a morte dos astronautas eram de 0,5%. Apresentada ao presidente americano, essa chance foi rejeitada, e ele então determinou que só aprovaria o lançamento se as chances de falha fossem de 0,25%. Foram mais seis meses de pesquisas, aprimoramento dos materiais usados na nave, etc (o que gastou bilhões de dólares), até que essa probabilidade fosse atingida.

Aonde quero chegar: a ativação do acelerador de partículas com certeza é diferente de um simples edifício ou mesmo da missão Apollo 11, pois os riscos envolvem o planeta inteiro e não somente um grupo de pessoas. Só que, similarmente, trabalha-se com chances nos dois casos. Mas e se admitirmos o experimento diante de chances muito, muito menores, da ordem de uma em bilhões, ou até trilhões? Uma chance condizente com o risco da extinção da humanidade (o que é realmente difícil de colocar em números). O risco se tornaria válido em prol de um grande progresso? Eu confesso que não tenho uma resposta absoluta para essa questão. Que continue em aberto a discussão daqueles que provavelmente não decidirão nada - todos nós.

PS.: Os blogs da Bibi e do Hugo e talvez do DJ essa semana também falaram do colisor (afinal todos estavam sem assunto! hahahah), então não deixem de visitar.

sábado, 2 de agosto de 2008

Trodonte - Capítulo 4

Logo após avistar o Baryonyx, uma confusão de pensamentos tomou a mente de Celeber por um instante. Como havia parado no lago? A última coisa que lembrava era de ter caído no meio da floresta, quando, com muito esforço, havia arrastado seu amigo Decus e a novata do grupo, Thescella.

Alguém me carregou até aqui, essa é a única possibilidade. - pensou o experiente caçador trodonte.

As explicações para o fato dele estar num lugar diferente do qual havia desfalecido rapidamente cederam lugar ao enorme carnívoro como sua principal preocupação.

Talvez ele não tenha me percebido ainda! – Celeber tentava permanecer calmo. Já havia passado por situações certamente piores que essa, e se saído extraordinariamente bem. Ensaiou girar o corpo, para lentamente sair de perto do animal, com a destreza e a tranqüilidade necessárias para não alertar o enorme predador.

Sentiu então uma dor extrema no joelho direito, ao movimenta-lo. Suprimiu com todas as forças um grito, rangendo os dentes. Olhou para a perna. Espantou-se ao ver um grande hematoma cobria a região da rótula.

O que diabos é isso?! – pensou, com surpresa. Teria se machucado ao cair no chão? Olhou novamente para o enorme carnívoro que ameaçava sua vida. A criatura fitava a floresta quase que na direção oposta. Se virasse e então percebesse movimentos bruscos por parte do caçador, certamente avançaria em sua direção. Com os movimentos impedidos, suas chances de sobrevivência diminuíam.

Minhas armas! – veio a idéia e, por um instante, o caçador teve esperança. Sem tirar os olhos do enorme carnívoro, deslocou as mãos até onde estariam os famosos piquetes dos caçadores. Esses piquetes eram uma opção formidável de ataque para distância curtas. Consistiam de uma estaca de metal, que era encaixada num compartimento tubular com uma mola no fundo. A mola, quando comprimida até certo ponto, era contida firmemente por uma trava. Com o simples apertar de um botão, a trava era liberada e a estaca, lançada.

Mas Celeber entrou em pânico novamente. Os piquetes, haviam sido levados. Aliás, agora que tinha se dado conta. Seu arco, as flechas e todos os seus outros itens, nenhum deles estava com o caçador.

Alguém me deixou aqui para morrer! – a assustadora conclusão tomou sua mente. A perna machucada e a ausência das armas confirmavam tudo. Mas porque teriam feito isso?

Não podia pensar nessas coisas agora. Tinha que pensar em sair dali em segurança.

Talvez, quem quer que tenha feito isso, tenha esquecido de alguma coisa! – passou a vasculhar seus bolsos mais escondidos. Com alívio, encontrou um volume num compartimento da calça, localizado na parte da vestimenta que cobria o terço superior da cauda.

Subitamente, o enorme predador virou o pescoço na direção do trodonte. O sangue do caçador congelou. A criatura deu um passo em sua direção, e Celeber sentiu o chão tremer. O trodonte tentava tirar, com desespero, o que estava encaixado naquele bolso da cauda. A criatura se aproximava cada vez mais. Celeber passava a se arrastar instintivamente para longe dela, chegando bem próximo do lago. O enorme predador já estava a alguns metros, quando o caçador, com o coração disparando, finalmente conseguia tirar o item guardado em seu bolso justo.

Assim que removeu o objeto do bolso, este se acendeu. O que Celeber esperava que o salvasse era um frasco com um óleo incandescente, assim como o piquete, uma das armas dos caçadores. Na base do frasco, uma tira com fósforo estava colada – quando o tubo era removido do bolso, a tira se atritava com um anel áspero na boca do bolso, sendo acesa imediatamente.

A criatura que ameaçava Celeber estranhou aquela fonte de luz em sua mão direita, mas se deteve por só um instante. Avançou na direção do trodonte.

Te peguei! – falou em pensamento o caçador, esboçando um sorriso e atirando o frasco no dinossauro. O recipiente se chocou no peito do animal, quebrando-se e espalhando o líquido em sua fronte, que imediatamente ficou em chamas. A criatura, com a dor da queimadura, cambaleou e caiu no chão, esfregando os braços de maneira desajeitada contra o peito, querendo se livrar do enorme incômodo.

Celeber levantou-se como pode, e, arrastando a perna machucada, se afastava triunfante, porém ainda não totalmente seguro. Novamente os pensamentos do que havia acontecido voltaram à sua mente.

Os figos! – a verdade veio como um relâmpago em sua cabeça. Não podia ser uma coincidência. Alguém havia intencionalmente envenenado os figos com alguma substância entorpecente. Esse alguém provavelmente teria sido a mesma pessoa que havia carregado ele até aquele local, próximo do predador – ou quem sabe, do caminho que ele seguiria. O agressor teria tirado todas as suas armas e machucado sua perna, para garantir que ele não sobrevivesse ao encontro com a fera.
Será que esse agressor terá feito a mesma coisa com os outros? – pensou o caçador. Mas seria muito mais fácil envenenar os figos com alguma toxina mortal, se o objetivo fosse matar todos os caçadores. Provavelmente ele era o único alvo. Pensou se isso teria sido obra de algum rival, que desse jeito o mataria sem deixar nenhuma pista do crime.

Já se aproximava da linha das árvores. Olhou para trás e viu o predador se levantando. Calculou rapidamente que poderia se esconder com facilidade antes da criatura alcança-lo novamente.
Subitamente, Celeber ouviu um zunido, e foi ao chão novamente. No solo, se deu conta que havia sido atingido por uma flecha no peito.

O caçador nem teve muito tempo de pensar no que havia acontecido. A dor e o medo o tomavam por completo, enquanto a criatura se aproximava novamente, a não menos que cinco metros das árvores.

Ele ainda está aqui… - concluiu Celeber, com suas últimas forças. Arrastou o rosto com dificuldade no chão, tentando localizar o agressor. Viu apenas um vulto entre algumas árvores, que rapidamente se foi. Observou então a sombra do enorme carnívoro lhe cobrir, impotente e sem mais nenhuma esperança de sobreviver.

Com o movimento característico de pegar um peixe, tal qual fariam os ursos dezenas de milhões de anos depois, o grande Baryonyx puxou o caçador com apenas uma mão. Abocanhou seu corpo no ar, matando-o instantaneamente com o primeiro fechar das mandíbulas.