sábado, 28 de junho de 2008

Apocalipse Múltiplo - parte 1

Em 4 de janeiro de 2012, um atentado terrorista deu início a uma série de eventos que mudaria profundamente a história da humanidade.

À época, o presidente dos EUA era o democrata Barack Obama. Pouco mais de três anos de sua eleição, as tropas americanas já haviam sido retiradas do Iraque, como havia sido prometido durante a campanha. Apesar dessa ação aparentemente consciente, o anti-americanismo no mundo todo continuava. Por outro lado, era acompanhado da pressão sobre o governo por parte do povo da nação, cada vez mais insatisfeito com os preços progressivamente mais altos do petróleo.

Na manhã daquele inverno, mais precisamente nos céus próximos ao Central Park, a 2350 metros do ponto onde, em 11 de setembro de 2001, haviam sido atingidas as torres do World Trade Center, um artefato nuclear de pequenas proporções foi detonado. Mais uma vez, o atentado foi obra do terrorista Osama Bin Laden. E os radicais islâmicos novamente haviam sido engenhosos: foi usado um balão para colocar a bomba na altitude que causasse o maior número de vítimas possível, sendo que esse balão trazia uma mensagem de aparente repúdio à retirada das tropas do Iraque. O propósito da mensagem era evitar que o bolão fosse abatido antes da hora – o governo estava receoso em reprimir duramente esse tipo de manifestação, afinal, muitos americanos já haviam sido presos ou mortos por se revoltar contra a desocupação do Iraque, o que provocou grande queda na confiança no governo. O preço desse erro foi grande: 86 mil mortos na hora.

Três dias depois, em 7 de janeiro, o então senador Arnold Schwarzenegger fez um discurso que, embora não tivesse sido transmitido ao vivo pela TV, provavelmente se tornou o vídeo mais assistido da História. Nele, o político criticava a falta de atitude do então presidente Barack Obama, e, já pensando em sua presidência em 2013 (afinal, como era de se esperar, emendas na constituição permitiriam que o ex-ator austríaco se elegesse), anunciou que, se então fosse o líder do país, e se as nações do Oriente Médio não expusessem totalmente a organização terrorista Al Qaeda, os EUA atacariam o subcontinente com todas as forças.

O sentimento de vingança, aliado com as preocupações provindas da crise econômica, tomou conta dos americanos, e a eleição do antigo governador da Califórnia já estava garantida. De fato, na prática ele já havia se tornado o presidente com o discurso de 7 de janeiro.

Uma extensa campanha militar, cujo alvo principal era o Irã, se iniciou em meados de 2013. O que os americanos não contavam era com o repúdio, dessa vez muito mais intenso, por parte da ONU e mais especificamente da China, que acusavam os EUA diretamente de querer ocupar os campos de petróleo de todo o Oriente Médio, sejam eles de países aliados, que “hospedavam” as tropas, ou de inimigos.

Mas a maior surpresa veio da resistência dos países islâmicos. Dezenas de milhares de soldados americanos morreram em poucos meses. Os Estados Unidos passaram a suspeitar do suporte da China aos países resistentes.

Em 2016, quando a contagem de mortos passava das centenas de milhares de militares americanos e de milhões de civis asiáticos, o governo americano, impaciente, tomou a decisão crucial: usar armas nucleares. Alvos supostamente estratégicos foram aniquilados. A sede de sangue das massas americanas, pelo menos naquele momento, foi saciada.

Porém, a resposta veio na mesma moeda. As “nações terroristas” detonaram armas nucleares nas capitais ocupadas, principalmente naquelas que seriam pontos-chave para a extração do petróleo do Oriente Médio, como o Kwait. Os Estados Unidos imediatamente acusaram a China de fornecer essas armas aos resistentes.

A guerra nuclear devastou o subcontinente do Oriente-Médio. Ao todo, foram 29 armas atômicas detonadas, sendo 21 por parte dos americanos. Em meados de 2019, a radiação acumulada já chegava a afetar uma parte da Índia. Estima-se que 90 milhões de pessoas tenham morrido no conflito, quando os Estados Unidos retiraram as tropas definitivamente da região, deixando para trás apenas um deserto estéril.

A década de 2020 apresentou os primeiros sinais das mudanças climáticas mundiais, iniciadas pelo desenvolvimento industrial dos séculos 19 e 20 e catalisadas pela guerra nuclear no Oriente Médio. As áreas de desertificação, como o centro dos EUA, o nordeste brasileiro e o norte da África cresceram e se tornaram ainda mais quentes e secas, enquanto as temperaturas na Europa caíram surpreendentemente. Os recordes de frio e calor foram batidos sucessivamente.

Enquanto isso, a crise do petróleo se agravou. O Oriente Médio havia se tornado inexplorável, e o Brasil, que possuía a segunda maior reserva do mundo do precioso combustível, não tinha capacidade para extraí-lo de modo eficiente. Mas justamente por essas razões, as atenções globais se voltaram ao país neutro.

No final da década, mais precisamente a partir de 2028, uma empresa privada surpreenderia o mundo com um crescimento sem igual. A Corporação Axis, centrada em desenvolvimentos tecnológicos em geral (mas com uma ampla gama de outras atividades), conquistaria o globo em três diferentes “frentes”:

A primeira, foi o desenvolvimento de micro-reatores nucleares funcionais, que poderiam ser usados para prédios, residências, e até mesmo veículos de grande porte. Num mundo com petróleo cada vez mais raro e por conseqüencia caro, a nova tecnologia foi extremamente bem-recebida, gerando altos dividendos para a empresa.

A segunda foi a criação da Ultranet, uma interface intuitiva que representava a própria Terra com fidelidade, combinando ao mesmo tempo vários serviços (algo parecido foi feito no início do século com o sistema chamado Second Life), que rapidamente substituiu a internet na navegação pela rede. O slogan do serviço era “A realidade está obsoleta”. De fato, a Ultranet apresentava um nível de detalhamento maior, no mundo digital, do que o que podia ser captado pelos olhos humanos, no mundo real.

E a terceira e última, no início de 2032, foi a produção e venda dos primeiros robôs domésticos, tecnologia desenvolvida pela filial da empresa no Japão. Além da qualidade excepcional, a reputação construída pela empresa naqueles quatro anos foi altamente responsável pela venda dos mesmos, supostamente em absoluto seguros por um sistema que colocava, acima de tudo, as três leis da robótica, concebidas por Isaac Asimov.

[continua]

sábado, 21 de junho de 2008

Poder de polícia

Durante essa semana, fiquei em dúvida sobre que título usar para este post. Por coincidência, acabei vendo numa prova essa expressão, "Poder de Polícia", que se encaixava perfeitamente com o tema a ser discutido a seguir.

Poder de polícia: é o poder do Estado que permite restringir as liberdades individuais em nome do bem coletivo.

Bem, vamos por partes pra ficar mais organizado. Decidi discutir esse tema depois do post do Thiago da semana passada, intitulado "Consumo Consciente?". De certa forma é um comentário desse post, embora eu queira aqui discutir a solução do problema, e não o problema em si.

Primeiro de tudo, concordo com a maioria das afirmações (embora sem compartilhar da mesma revolta). As cidades são realmente espaços finitos, com concentrações cada vez maiores de pessoas e, por conseqüência, de carros. Com o crescimento da renda, as classes de renda mais baixa tendem a abandonar o transporte coletivo e passar a usar automóvel. Mas aqui, eu acho que essa é, infelizmente, uma tendência natural das pessoas. Dificilmente, na possibilidade de usar o carro, elas optarão pelo transporte coletivo - para que isso acontecesse, seria necessário que o transporte coletivo tivesse muita qualidade, e/ou o uso do carro fosse menos compensador.

Eu não acredito que as pessoas sejam conscientes quanto ao coletivo. Talvez elas sejam, mas só um pouco - não o suficiente para que façam sacrifícios em nome do resto da cidade.

Além disso, li uma frase do Maluf (não se preocupem, não sou malufista, e acredito que felizmente o ex-prefeito está inelegível pelas grandes massas, o que é algo tranqüilizante para mim, vide o que eu penso sobre as eleições), que dizia "Carro é liberdade". Tenho que concordar. Não só no sentido de ir pra qualquer lugar que se desejar a qualquer momento, como no sentido da liberdade de se adquirir o que se quiser (ou melhor, puder pagar).

Independente de tudo isso, o problema nos transportes continua. Partindo das hipóteses que não se pode confiar que a consciência das pessoas quanto ao coletivo mude (pelo menos a curto prazo), e que a liberdade das pessoas deve existir, como solucionar esse problema?

Eu proponho, justamente, o "poder de polícia". Se a situação chega a um ponto que prejudica o coletivo, que sejam tomadas medidas, mesmo que sejam drásticas, para reverter isso. Aumento nos impostos, no IPVA talvez? Se um carro é capaz de comportar 4 pessoas quando só comporta uma, não seria, na teoria, mais justo que o dono desse carro pagasse, vamos dizer, quatro vezes mais? Quem sabe, uma taxação inteligente, variável diante do nível de saturação das vias da cidade? Talvez a ampliação do rodízio (essa semana mesmo, fiquei sabendo que caminhões pequenos estariam nele incluídos).

Imediatamente, haveriam reduções no uso do carro na cidade. Embora também houvesse maior demanda pelo já superlotado transporte coletivo, surgiria com essa demanda, a revolta generalizada da população, ansiando por um melhor sistema de transportes.

O ponto desse texto é o seguinte: as pessoas não são conscientes, e se já é difícil mudar a cabeça de uma pessoa, que dirá de milhões. Mas elas ainda respondem a incentivos - mesmo que eles sejam negativos. Dou aqui como exemplo, um caso que ouvi numa aula: em Los Angeles, as pessoas só passaram a demandar o transporte coletivo com a alta do petróleo (que aqui não foi repassada aos motoristas). Um outro exemplo, numa outra esfera, seria o Bolsa-Família. Uma cesta básica (creio que seja isso) por ter um filho, não é um incentivo ao crescimento populacional, e conseqüentemente um problema adicional aos sistemas de saúde e educação, já saturados e de baixa qualidade? Por que, ao invés disso, não incentivar o controle de natalidade? Talvez o Bolsa-Vasectomia ou o Bolsa-Trompas-de-Falópio (ou Ligadura-de-Trompas, mas o primeiro me parece mais engraçado)? Ou melhor, mesmo um benefício cumulativo pelo tempo em que uma família permanece sem filhos. Não seria essa uma boa forma de incentivar as pessoas, mantendo a liberdade delas?

Em resumo, por mais controlador que isso seja, eu proponho que a sociedade seja controlada, ou no mínimo melhor incentivada (positivamente ou negativamente), em prol do bem coletivo. Afinal, é por vivermos em sociedade que temos grande parte dos benefícios aos quais nos acostumamos. Deve haver alguém que zele por ela - se não forem as próprias pessoas, que seja quem está acima dela.

Agora, o problema é quem está acima dela.

sábado, 14 de junho de 2008

Spore

Outro dia comentei sobre como eu havia “voltado” (ou seria “visitado”?) ao mundo dos games após jogar o famigerado GTA4 pro já não tão novo XBox 360. Mas acho que deixei de comentar sobre qual seria meu tipo de jogo favorito.


Seriam os jogos divertidos, intuitivos, interativos, com os personagens clássicos? Ou os jogos aprimorados graficamente, realistas, que geralmente são mais viciantes a longo prazo?

Bem, na verdade, nenhuma das anteriores. O tipo de jogo que parece mais me agradar são os jogos de criação (ou seriam os jogos de simulação?). Gastei muito mais tempo em jogos como The Sims, Sim City e Roller Coaster Tycoon que com quaisquer outros jogos.

Posso estar sendo muito restritivo aqui, considerando-se que não há tantos jogos nesse estilo (se é que ele pode ser considerado um), mas eles sempre me atraíram mais do que os outros. Controlar um parque de diversões, um hospital, construí-los e gerenciá-los como bem entender, parece tão interessante, pelo menos pra mim. Pergunto-me se não são também incrivelmente interessantes para vocês e para os outros, jogadores veteranos ou “simples mortais”.

Nesse campo dos jogos de criação, destaca-se a Maxis. Não só por ser a responsável por títulos como The Sims e SimCity, extremamente vendidos e explorados, mas por seu jeito único de caracterizar os seus jogos. Normalmente, eles não são só “jogos de criação”, como o são sem terem objetivos claramente definidos. O jogador, em teoria, pode fazer o que quiser, pode definir seus rumos dentro do jogo. Aqui há o argumento de muitos jogadores que não gostam do estilo, que não há um final definido para esses jogos. Eu classifico isso mais como uma tradição que há, que os jogos devem ter obrigatoriamente um final. Mas qual a diferença entre um final programado pelo desenvolvedor e um “programado” por você mesmo? Por exemplo, em The Sims 2, eu estabeleci que meu objetivo seria criar um “clã” único do qual um monte de Sims fossem descendentes de um único casal, construindo casas para eles e até, num dado nível genealógico, eventualmente juntando primos e primas. Foi um jogo que demorou muito para me enjoar, e isso se eu não voltar a jogá-lo ocasionalmente.

Comparo aqui os jogos da Maxis com o famoso Lego, certamente presente em nossas infâncias. Ele não tinha um objetivo claramente definido que não fossem os nossos próprios, “conscientes”, pré-estabelecidos (eu lembro-me de gostar de montar um foguete de vários andares, externamente no estilo das naves Apollo), e um “inconsciente”, nossa diversão. E as possibilidades do jogo eram muito maiores que a de qualquer outro jogo mais convencional. Não preciso dizer que Lego é, ao meu ver, um dos brinquedos mais interessantes já inventados, e que é uma pena que hoje ele tenha perdido a popularidade (não consideremos aqui as adaptações em games de grandes franquias em versões Lego, como para Star Wars e futuramente, Indiana Jones).

Mas, mesmo com esses jogos, eu acabei me afastando um pouco das novidades em geral nesse mundo, como descrevi naquele post sobre o XBox 360. Entretanto, já há algum tempo (creio que uns dois anos), descobri um novo “jogo de criação”, também da Maxis. E veio a empolgação, a procura por informações e trailers. Dado o grande intervalo desde os primeiros trailers e o lançamento do jogo, invariavelmente “me esqueci”, mas finalmente o mesmo está próximo, e o interesse, com isso, volta. O nome do jogo: SPORE.

A premissa é grandiosa. Primeiro, criar um ser unicelular e evoluí-lo. Depois, invadir a terra e evoluir ainda mais, até alcançar a consciência. Então, formar uma tribo, se desenvolver tecnologicamente e lutar pela sobrevivência. Em seguida, no controle de uma civilização, unificar o planeta, seja na guerra ou na paz. Finalmente, iniciar a exploração espacial, conhecendo novos planetas (com criaturas como as que você cria no seu, com seres inteligentes como o que você desenvolveu). E tudo isso com uma fase à cada frase. Cada fase como um jogo à parte, com claras semelhanças com outros jogos, como Civilization, Age of Empires, Pac Man...

O melhor de tudo, são as ferramentas de criação que estarão disponíveis. Os prédios, as árvores, os veículos… Tudo poderá ser personalizado. A mais impressionante dessas ferramentas é o criador de criaturas, que inclusive, chamou tanto a atenção que terá uma versão disponibilizada gratuitamente (com 25% das “peças” que possam ser usadas na criação das criaturas), e uma paga, ambas disponibilizadas no dia 17 (próxima terça-feira). Também foi uma estratégia para que o jogo já viesse para o mercado (ele vai ser lançado em 7 de setembro) com uma grande base de criaturas criadas pelos jogadores povoando a galáxia.
Versão antiga do editor
Exemplos de criaturas criadas com o editor de criaturas, por sortudos que já possuem o editor em mãos.

Outro ponto interessante do jogo, é como ele “vai ser online, sem necessariamente ser online”, de acordo com a definição dada pelo próprio criador do jogo (que aliás, pra quem não conhece, é Will Wright, o mesmo da frase do blog na semana em que este texto foi postado). O conteúdo criado pelo jogador vai ser colocado nos servidores do jogo, sendo então “distribuído” para todos os outros, mas sendo controlado no jogo dos outros “pela CPU” – ou seja, nada daqueles jogadores viciados que muito provavelmente iriam escrotizar seu planeta simplesmente porque você não joga tanto quanto eles. Além disso, as criaturas de seus amigos que jogarem SPORE terão preferência em sua galáxia, creio eu que nas vizinhanças de seu planeta natal.

Bem, eu acredito que vai ser o jogo mais vendido da história, tal qual foi The Sims, pelo menos para PCs. A premissa e o modo como tudo foi criado foram, ao meu ver, geniais. E eu aguardo até a próxima terça para finalmente começar a criar minhas criaturas, espero que vocês também!
Site oficial (onde será liberado o download do editor em versão trial)

sábado, 7 de junho de 2008

Fazendo uma ponte com um comentário n'outro blog

Na última terça-feira, eu bati meu recorde. Fiquei fazendo trabalho até quase 10:00 na faculdade (sendo que eu e mais dois colegas começamos o dito cujo às 16:40). Um dos meus colegas me ofereceu carona, pois mora próximo da minha casa. Já estava bem tarde e eu, claro, aceitei, mas não tinha desconsiderado antes a hipótese de voltar a pé.

Foi então que esse meu amigo me disse que a partir das 10, 10:30, os ônibus não circulam na USP – não sei se a informação procede; se estou falando besteira, me corrijam. Mas se for verdade, então eu estaria ferrado se estivesse sozinho à essa hora lá.

No caminho, um dos assuntos que discutimos foi sobre a ponte estaiada sobre o rio Pinheiros, a qual ele sempre pegava pra voltar pra casa e na ocasião não foi diferente. Vocês já viram a ponte à noite? Ela é iluminada e fica mudando de cor. Ouvi muita gente dizendo que é ridículo, e eu confesso que também achei estranho e preferiria uma iluminação normal.

Mas enfim, o que eu mais quis discutir com ele foi sobre como essa ponte afetou o trajeto dele para sua casa, justamente porque alguns dias antes tinha debatido o seguinte assunto aqui pelos blogs e no MSN – a ponte construída era realmente necessária? E então, fiquei surpreso com as reclamações dele de que o trânsito na Roberto Marinho, que ele utilizava, tinha aumentado muito, principalmente por causa dessa ponte, que havia atraído usuários. Mas também ele me revelou que o trânsito em outros trajetos tinha melhorado.

Vou explicar aqui um pouco do que estudei de engenharia de tráfego, que implica no assunto.

Um dos modelos que os engenheiros usam para estudar os fluxos de viagens (no caso, usando o sistema viário) se baseia, essencialmente, nas regiões que mais produzem e atraem as viagens, que ainda podem ser de dois tipos: viagens com motivo de trabalho e com outros motivos (a passeio, pais buscando seus filhos nas escolas, etc).

Outros pontos que o modelo compreende são o número de pessoas por família, o número de carros de cada família, e quantas viagens as famílias costumam produzir, de acordo com o número de carros (uma família de 6 pessoas com 2 carros produzirá muito mais viagens em horário de pico – e a rede viária é dimensionada baseando-se nos horários de pico, que constitui o pior caso possível – que uma família com apenas uma pessoa e sem carro).
Mas o mais interessante: de acordo com o tamanho da família, é possível, a partir de uma fórmula, calcular a probabilidade que essa família tenha 0, 1, 2 ou mais carros. Nessa fórmula, é usada a taxa de crescimento anual da renda. Quanto maior a renda de uma família, maior será a probabilidade dessa família ter mais carros e, assim, efetuar mais viagens.

O ponto em que quero chegar: eu acredito que a ponte estaiada construída sobre o rio Pinheiros possa ter sido algo necessário para a cidade no momento. Meu amigo reclamou que o trânsito em sua rota aumentou, mas ao mesmo tempo, rotas alternativas se tornaram menos congestionadas. De fato, um novo caminho só pode melhorar o fluxo de veículos na cidade – a questão aqui é se esse investimento foi uma idéia inteligente, se a verba não poderia ser melhor aplicada. E para essa questão, eu sinceramente não tenho certeza da resposta, por isso o “possa” na primeira frase deste parágrafo.

Citei o crescimento na renda, que de fato é usado como variável crucial no modelo de estudo dos fluxos de viagens, pois ele exemplifica como outro crescimento, o da frota de veículos, pode ser difícil de se evitar. Com o aumento da renda, é razoável que se espere esse crescimento. Só mesmo um transporte público de muita qualidade – e isso talvez torne-se especialmente difícil de se fazer (ou ao menos demorado) num país como o Brasil e numa cidade como São Paulo – poderia reverter esse quadro.

Não estou dizendo que o aumento na malha viária seja a solução para os problemas de transporte em geral – de fato, o transporte público, o metrô mais especificamente, é a solução mais adequada a longo prazo. Mas não se pode ignorar o aumento do fluxo de automóveis; chega um ponto em que certas obras se tornam necessárias. Novamente não estou dizendo necessariamente que a ponte foi a solução mais inteligente em termos de custo-benefício (sendo o benefício, aqui, a melhora no fluxo de viagens), estou dizendo apenas que ela pode ter sido.

O que eu acredito, em suma, é que as decisões que são tomadas, como por exemplo, a construção dessa ponte, são feitas após minuciosos estudos por parte dos engenheiros (usando modelos como o exemplificado), principalmente por haver tanto dinheiro em jogo. O que pode acontecer, é que essas decisões estejam equivocadas. E aí há exemplos como do metrô da linha 5-Lilás, muito pouco usado (na verdade não se se continua assim).

A respeito da obra como um “cartão-postal” da cidade. Muitos acharam isso um desperdício de dinheiro, mas eu acho válido termos obras não só funcionais, mas também bonitas na cidade, que inclusive carece disso. E eu não tenho certeza, mas talvez a diferença de um projeto de arquitetura mais elaborada para um projeto simples talvez não fosse tão grande, na questão do preço.