sábado, 9 de agosto de 2008

Acelerador do fim do mundo

A ativação do LHC, o Large Hadron Collider (o maior acelerador de partículas do mundo), foi adiada, então a discussão continua: vale a pena liga-lo? Correr um risco, mesmo que infinitesimal, de toda a Terra ser destruída?


No campo da ficção, sempre achei um assunto interessante as eventuais ameaças que poderiam afetar toda a humanidade, ou até mesmo a Terra. Os exemplos mais comuns: o “comuníssimo” holocausto nuclear (talvez a ameaça mais real pela qual passamos nesse sentido), a queda de um meteoro que tornasse impossível a vida no planeta, e a criação/evolução de um vírus/bactéria/parasita mortal que provocasse uma epidemia de proporções globais. Todas essas possibilidades me deram a idéia, inclusive, de escrever uma história na seguinte linha: e se todas essas ameaças se apresentassem paralelamente à humanidade?

Foi então que eu comecei a escrever o texto intitulado “Apocalipse Múltiplo”, com uma história se passando em 2060, com a Terra sendo devastada pela guerra nuclear, por epidemias, mudanças climáticas drásticas, entre outros pesadelos da raça humana.

Como esse texto seria mais uma homenagem a essas formas mais comuns (e talvez mais exploráveis) da destruição da humanidade, e também aos filmes que se baseiam em cada uma delas, muita coisa interessante acaba ficando de fora.

Um texto muito curioso que relata dezenas de formas do mundo acabar (das mais comuns até outras muito irreais, como por exemplo: todas as moléculas da Terra deixarem de existir ao mesmo tempo!) com detalhes, pode ser visto no seguinte link (está em inglês):

http://qntm.org/?destroy

Mas enfim, voltando ao assunto do LHC: o grande problema do acelerador de partículas é que ele pode criar um buraco-negro, que eventualmente engoliria toda a Terra. Também há a possibilidade da criação de matéria estranha, que, em contato com outros tipos de matéria, as transformaria também em matéria estranha, gerando uma reação em cadeia com proporções catastróficas.

Qual seria a probabilidade desses acontecimentos catastróficos se concretizarem? O blog que li que me impeliu a escrever sobre o assunto relatava uma chance de 0,01% do acelerador de partículas criar o tal buraco-negro. Porém, o autor do blog provavelmente se enganou, não considerando que esse micro-buraco-negro criado se evaporaria rapidamente.

Apesar de não ser um profundo conhecedor do assunto, sei que essa chance de 0,01% seria muito grande para que até se cogitasse a ligação do acelerador. Provavelmente, as chances reais de “destruição da Terra” (embora sejam difíceis as previsões nessa área), seriam realmente infinitesimais.

Mas a questão continua sendo a mesma, afinal, a diferença entre uma chance infinitesimal e a certeza de que não ocorrerá nada é grande.

Talvez seja, no final das contas, apenas uma questão de números. Pelo que eu conheço da engenharia, tudo que é construído leva em conta a probabilidade de algo dar errado – sempre há a chance do desastre.

Por exemplo, na área da construção civil (que aliás é a minha área). Quando um prédio é estruturado, o concreto armado que o sustenta é feito com uma resistência tal que esta suporte todas as cargas solicitantes do prédio (que daí variam com relação ao seu uso – uma biblioteca, por exemplo, apresenta uma solicitação muito grande). É claro que, para os cálculos, as cargas de solicitação são majoradas (multiplicadas por um coeficiente), enquanto as resistências dos materiais solicitados são minoradas (divididas por um coeficiente). Afinal, sempre há a possibilidade de haver uma carga maior que a média prevista, assim como há a possibilidade do concreto produzido para sustentar um prédio apresentar uma resistência menor que a média calculada.

Só que, mesmo depois de tudo isso, ainda existe a probabilidade, de se ter produzido um concreto tão ruim para a sustentação, e as cargas serem altas muito além do previsto, ocorrendo a ruína da construção. Claro que essa probabilidade é muito pequena (provavelmente bem menor que a suposta de 0,01% do colisor de hádrons destruir a Terra), e lembrando que aqui estamos falando de apenas algumas vidas perdidas no desmoronamento de um edifício, em comparação com a destruição de toda a humanidade.

O que governa o estabelecimento dos coeficientes usados na construção civil e, similarmente, em outras áreas, é a diminuição das probabilidades de ocorrer um acidente.

Mas o que entra nessas determinações também, é a viabilidade econômica dos empreendimentos. Passando para outro exemplo: à época do lançamento da Apollo 11, as chances de uma falha que provocasse a morte dos astronautas eram de 0,5%. Apresentada ao presidente americano, essa chance foi rejeitada, e ele então determinou que só aprovaria o lançamento se as chances de falha fossem de 0,25%. Foram mais seis meses de pesquisas, aprimoramento dos materiais usados na nave, etc (o que gastou bilhões de dólares), até que essa probabilidade fosse atingida.

Aonde quero chegar: a ativação do acelerador de partículas com certeza é diferente de um simples edifício ou mesmo da missão Apollo 11, pois os riscos envolvem o planeta inteiro e não somente um grupo de pessoas. Só que, similarmente, trabalha-se com chances nos dois casos. Mas e se admitirmos o experimento diante de chances muito, muito menores, da ordem de uma em bilhões, ou até trilhões? Uma chance condizente com o risco da extinção da humanidade (o que é realmente difícil de colocar em números). O risco se tornaria válido em prol de um grande progresso? Eu confesso que não tenho uma resposta absoluta para essa questão. Que continue em aberto a discussão daqueles que provavelmente não decidirão nada - todos nós.

PS.: Os blogs da Bibi e do Hugo e talvez do DJ essa semana também falaram do colisor (afinal todos estavam sem assunto! hahahah), então não deixem de visitar.

4 comentários:

Hugo Petelin disse...

Opa, olha quem apareceu por aqui... :P
Então Rabay, gostei muito do texto, de onde você absorve tanta informação rapaz? xD
Falando de estruturas e até de bibliotecas !? xD
E concordo que qualquer chance para nos destruir desse ser cogitada! Pelo menos não teria que me preocupar com as minhas dps... xD
Quem sabe o adiamento para a ativação do projeto no dia 10 não reduza a chance dessa catástrofe?

Anônimo disse...

Ah, eu não estava sem assunto... mas ia postar algo diferente do que postei, hahaha.

A chance de destruir a Terra é bem pequena (e sempre existe porque todo experimento pode dar errado, não importa o tamanho que seja), mas faz muita gente se desesperar.
Igual às profecias de Nostradamus, a gente começa a fazer associações aleatórias e conclui que o mundo terminará em 2010 por intervenção divina. Mas, vá saber...

Rabay sempre acrescenta muita informação útil aos textos que escreve! Parabéns =)

Nefelibata disse...

Finalmente alguém veio dizer que o LHC não é capaz de criar um buraco negro realmente ameaçador XD

Não me lembro mais onde li, mas tinha lá que mesmo que esse buraco negro não se desfizesse quase que instantaneamente, ele escaparia para o espaço e "cresceria" de tal forma que o buraco negro no centro da Via Láctea nos pegaria antes.

Mas realmente, o texto está muito instrutivo e interessante, parabéns ^^

Anônimo disse...

"Retrato falado do suspeito"? Hahahahaa.
Só você mesmo, Rabay! Muito legal o desenho =)

Gostei mais dessa configuração do blog =)
Só não sei direito quanto às cores... acho que esse amarelo ficou estranho nesse azul claro.