sábado, 25 de outubro de 2008

Os fins da evolução

Quando o blog tinha apenas alguns posts, lembro-me de citar que haviam quatro grandes questões (ou seriam mistérios) que o ser humano talvez nunca "solucione". A saber: a existência, a vida, a inteligência e o amor.
Refletindo um pouco sobre a questão da inteligência (a consciência, para ser mais exato), me veio a seguinte indagação: será que esta não faz parte do segundo mistério, a vida? Porque a inteligência nada mais é que um mecanismo que a evolução encontrou para perpetuar a vida. Apenas um dos acasos, dentre tantos outros, que surgiram para que as formas de vida fossem cada vez mais evoluídas e adaptadas ao ambiente, mesmo que em constante mudança. Com a diferença que a inteligência é bem mais intrigante que mesmo um par de pulmões para um peixe que dá seus primeiros passos em terra firme - talvez isso valide a questão, novamente. Mas de todo mundo, não deixa a inteligência de fazer parte do mistério da vida.
Porém, o que eu quero discutir aqui, hoje, não é especificamente isso. É a validade daquilo que chamamos de evolução. Justamente a inteligência nos dá, supostamente, a posição no topo da cadeia evolutiva.
Porém, vamos imaginar outra situação. Na história que eu estou tentando escrever nos últimos tempos, Trodonte, tento imaginar uma sociedade em que uma espécie de dinossauro evoluiu para uma criatura consciente. Na época desses dinossauros, havia predadores terríveis, muito maiores que quaisquer outros do nosso tempo. Não que necessariamente o tamanho fosse algo que importasse, mas será que poderia haver um predador tão mortífero e eficaz, que nem mesmo uma espécie inteligente teria condições de competir com ele (e se desenvolver tecnologicamente), sendo até mesmo dizimada pelos indivíduos de sua espécie? Não seria essa, então, a espécie dominante, num dado momento? Ou será que a inteligência sempre predominaria, mesmo que sobre a força de um predador, por mais colossal que fosse?
Mais um caso que podemos analisar: dos insetos vivendo em sociedade. Esse tipo de comportamento, a convivência em sociedade, não muda há centenas de milhões de anos. Não seria esse mais um topo da cadeia evolutiva? É curiosa a capacidade de comunicação das formigas, por exemplo, em que as informações são transmitidas pelos membros de uma colônia, um a um, de maneira muito rápida e eficiente. É extremamente interessante comparar esse funcionamento da colônia com o de um ser humano. Não somos grandes colônias de células, afinal?
E por último, conforme eu discuti num dos primeiros posts do blog, a respeito dos robôs que podiam imitar o mecanismo da vida, se replicando e até mesmo evoluindo. Imaginemos que seja possível criar os tais nano-robôs, e que estes se alimentassem unicamente de energia solar - a fonte primordial de praticamente todas as formas de energia da crosta terrestre. Dado que nós também, mesmo que indiretamente, nos utilizemos dessa energia (afinal, comemos plantas e animais que comem plantas, e nem é preciso dizer que elas "acumulam energia" por meio da fotossíntese), não seria esse mais um passo nos caminhos da evolução? Seriam então esses robôs não só formas de vida, mas as formas perfeitas de vida? E não seríamos nós, então, apenas marionetes dos processos de evolução?

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Vítimas de muitos erros?


São 00:05 aqui no relógio do PC quando eu começo a escrever este post, e estou acompanhando pelo site do UOL as últimas notícias do caso da menina seqüestrada. A manchete diz que ela ainda está em estado gravíssimo.
Geralmente não sou de ficar indignado com esses casos, mas admito que fiquei com um pouco de raiva do seqüestrador, principalmente após sair do banho e saber, também pelo site do UOL, que o governo tinha anunciado que a menina tinha morrido (informação que depois foi desmentida). Acho que aquele desejo de que o criminoso pague, às vezes com a própria vida, é natural em grande parte de nós, após alguma atrocidade cometida. Afinal, se não morrer, é provável que a menina fique com seqüelas; sem falar da amiga, que também foi ferida.
Mas não quero discutir aqui nada de maneira passional. Quero discutir o que teria sido o mais certo a se fazer antes desses infelizes desdobramentos.
Vi uma matéria que destacava os três tipos de seqüestradores mais comuns: o terrorista, inexistente por aqui, que está sempre disposto a ir até o final; o bandido, que está disposto a negociar; e o sujeito emocionalmente abalado (o caso em questão), que é instável. Me pareceu uma classificação conveniente.
A ação da polícia foi a mais correta? Não sei se o seqüestrador chegou a se mostrar na janela por tempo suficiente, mas se chegou, não seria o caso de atirar nele com um rifle de precisão? Que eu me lembre, eram 6 atiradores posicionados, creio que estavam atentos à janela, a fim de aproveitar qualquer oportunidade.
Sei que a polícia num caso desses faz uma escalação dos níveis de prioridades, das vidas dos elementos em questão. Em primeiro lugar estão os reféns, ou seja, qualquer coisa que ponha a vida dos reféns em risco deve ser impedida. Em segundo lugar, estariam os bandidos e, em terceiro, os policiais (sim, pode ser estranho, mas se não me engano, os policiais devem colocar a vida do bandido acima de suas próprias). Claro que isso tudo é o ideal, e na prática as coisas são muito diferentes (principalmente na parte dos policiais colocarem suas vidas abaixo das dos bandidos).
É aí que vem meu ponto. As coisas são muito diferentes na prática. Se existe um manual, por que ele não é seguido? O exemplo gritante no caso é o retorno da amiga da ex-namorada ao cárcere privado, algo inconcebível. Tenho certeza que existem regras explícitas quanto a isso na parte de "Como agir em seqüestros" do manual da polícia.
Imagino, então, se os policiais não teriam pensado algo do tipo: "Não vamos arriscar abater o seqüestrador, vamos tentar tirar a menina na base da negociação". Não estou aqui subestimando o valor da negociação, mas será que a polícia não acabou "indo só no bom senso", descartando qualquer possibilidade de invasão prévia ou atirar no seqüestrador.
Por mais que a invasão (ou mesmo atirar no seqüestrador quando aparecesse na janela), previamente, pudesse parecer algo muito arriscado, a negociação também o é, principalmente no caso do seqüestrador desequilibrado. O que eu questiono é se a polícia não estaria usando o bom senso apenas, ignorando qualquer tipo de código. O que é muito feito nesse país, em todas as áreas imagináveis.
São 01:02, e a menina continua no mesmo estado. Não sou o dono da verdade, mas queria ser por um momento, só para saber se a polícia foi realmente incompetente nesse caso.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sem pobreza e, ainda, com liberdade


Após a queda do Muro de Berlim, seguiu-se uma década em que alguns poderiam declarar o seguinte: "A humanidade finalmente está unida e em paz; podemos nos concentrar nos problemas que temos como civilização".
Claro que essa linha de pensamento não durou muito, dado os ataques de 11 de setembro - até hoje, as manchetes sobre o terrorismo não deixam os jornais. Mas o sentimento de unidade da humanidade, mesmo que intermitente, prevalesce. Talvez sintamos que somos capazes, agora, de resolver nossos problemas universais.
Dentre tantos problemas que temos, sempre prevalescerá o da pobreza no mundo. É, e talvez por muito tempo continue a ser, o primeiro da lista.
O que gera a pobreza? Os recursos produzidos pela humanidade hoje, graças aos avanços técnicos e científicos, são muito superiores àqueles produzidos há um século. Entretanto, essas riquezas permanecem muito desigualmente distribuídas, fazendo com que uma grande parcela da população fique abaixo da linha da pobreza.
Uma solução possível para o problema seria dividir tudo de maneira absolutamente igual, entre todos. Entretanto, surge uma nova questão: o velho conflito da vida contra a liberdade. No caso, a liberdade de enriquecer.
Vida e liberdade são dois direitos que entram diversas vezes em conflito. As questões do aborto e da "segurança vigiada" ilustram bem isso. Embora possa parecer muito materialista (e é a segunda vez que digo isso este mês), devemos nos perguntar se estamos dispostos a abrir mão de nossa liberdade de enriquecer, em prol do direto à vida de todos, quando decidimos por essa opção.
Pessoalmente, acredito que há uma maneira de agradar tanto a gregos quanto a troianos. Somos privilegiados de viver numa época em que, talvez, a educação seja nosso principal meio de produzir riqueza. Se dermos educação a cada ser humano de maneira justa, estaremos permitindo que cada um tenha suas oportunidades de produzir o suficiente para sobreviver e, se assim quiser, também enriquecer.
Temos que ser o mais produtivos possíveis. No caso específico do Brasil, temos que elevar novamente o sistema público de educação ao nível que tínhamos há 40 anos. Não podemos aceitar nada menor do que a eficiência máxima: por exemplo, terras não podem ficar paradas, sem produzir. As atividades que se mostram mais produtivas para a sociedade devem ser incentivadas. Sempre menciono uma comparação que cabe agora, do Brasil com o Japão: o primeiro possui 8% de seus formandos engenheiros, enquanto o segundo, 25%. E há MUITO trabalho a se fazer no campo. Trabalho que só traz benefícios para a sociedade como um todo.
Desonestidade e incompetência são os verdadeiros luxos aos quais não podemos nos submeter, se quisermos acabar com o problema da pobreza.
E então passaremos para o próximo item da lista: o meio ambiente.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O valor de uma vida humana


Imagine que duas pessoas estão correndo risco de vida, e que você só possa salvar uma delas. Quem você salvaria? Que características afetariam sua escolha?
É claro que, se esse experimento mental que estamos fazendo fosse real, a escolha seria muito mais afetada pela tensão do momento, e pelas nossas instáveis emoções. Esse não é o ponto do texto. Quero pensar em qual seria a melhor decisão racional num caso desses, a decisão não afetada pelo calor do momento.
O senso comum nos diz que, na maioria dos casos imagináveis (em termos de combinação de nossas duas "vítimas") é uma decisão extremamente cruel, que muitos optam por não fazer. De fato o é. Exceto para alguns casos, por exemplo, o que estão envolvidos uma criança e um adulto (a prioridade acaba se tornando a criança, segundo nossos valores éticos e morais), qualquer escolha de parâmetro de diferenciação pode ser considerado equivocado. Pensando num caso parecido: se um idoso e um adulto corressem risco de vida, quem você salvaria? Quem defendesse o salvamento do idoso poderia alegar que ele deve ser priorizado justamente pela sua idade avançada; quem defendesse o salvamento do adulto, poderia sugerir que o idoso estaria próximo da morte, e o adulto "teria mais vida pela frente".
Eu acredito que os valores que geralmente são considerados são muito subjetivos, e justamente por isso entram tanto em conflito. O que eu quero sugerir é: seria possível determinar valores para as vidas das pessoas, a fim de tornar essa análise "mais fácil"? Em suma, seria possível determinar o valor de uma vida humana?
Mas que parâmetros seriam utilizados nessa determinação?
Embora isso possa parece assustadoramente materialista, o que eu sugeriria (mas não exatamente defenderia) como variável para determinar o valor da vida de uma pessoa giraria em torno do quanto ela pode produzir. Não só no tempo presente, mas durante toda a sua vida futura.
Lembrando novamente do pensamento racional no caso, então estamos ignorando, de certa forma, nossos valores éticos e morais - só porque eles entram exageradamente em conflito num caso desses. As duas pessoas que estão "em perigo" em nosso exercício não tem nada a ver com nós. Qual seria a única influência dessas pessoas em nossas vidas? Poderíamos entender que estas pessoas apenas influenciam a sociedade em que vivemos, com aquilo que elas produzem. Elas são "apenas" duas adições diferentes ao PIB do nosso país, todo ano.
Se seguirmos essa linha de pensamento, poderíamos fazer algumas comparações, indo para diversos pontos.
O primeiro seria a comparação entre a criança e o adulto - a criança ganha pois tem muitos anos de vida mais pela frente (probabilisticamente falando) que o adulto. Ou seja, ela pode produzir mais para a sociedade em geral, em termos absolutos, que o adulto, que já produziu parte do que poderia produzir em sua vida. Entretanto, se pensarmos a curto prazo, o adulto produz mais que a criança, que ainda precisa completar sua formação (ou mesmo tê-la) até ser produtivo para a sociedade.
Outro caso, mais polêmico, seria comparar uma pessoa instruída, com outra não instruída. A pessoa com, vamos supor, um diploma acadêmico, seria teoricamente mais produtiva que aquela que só tivesse o Ensino Fundamental completo. Poderíamos usar o salário desses indivíduos como indicador do quanto ela pode produzir para a sociedade (embora isso possa não ser muito preciso). Não se trata de um pensamento elitista - se vivêssemos num mundo ideal, com as mesmas oportunidades para todos, aqueles que tivessem mais quantidade de conhecimento acumulado (ou seja, pudessem produzir mais para a sociedade como um todo), ainda assim teriam suas vidas "valendo mais".
Se compuséssemos todas essas considerações (o que é bem difícil), teríamos um modelo de quanto valeria a vida de cada pessoa. Baseando-se em quantos anos de vida ela tem (e, complementarmente, quanto tem pela frente, fazendo uma análise probabilística de sua vida futura), na quantidade de conhecimento acumulado, no seu estilo de vida, etc, poderíamos criar esse modelo, tudo girando em torno do que essa pessoa é capaz, no futuro, de gerar para a sociedade.
Essa análise pode parecer demasiado fria (e na verdade é), mas me pergunto se pensar assim não estaria "em vigor", sem nos darmos conta disso. Lembro-me de um caso que exemplifica bem essa linha de pensamento.
Durante a Primeira Guerra Mundial, surgiram os primeiros aviões de combate (e isso pouco tempo depois do avião ser inventado). Os pilotos não tinham nenhuma forma de ejetar dos aviões caso estivessem prestes a cair. Hoje em dia, para os pilotos de caças, esse sistema é bastante comum. O que mudou? Os generais e engenheiros militares tornarem-se mais conscientes? Na verdade, o que aconteceu é que houve uma valorização grande do piloto - enquanto qualquer um seria capaz de pilotar uma das máquinas voadoras do começo do século 20, um caça exige anos de estudo e treinamento. As autoridades não podem se dar ao luxo de perder um piloto de caça - ele é experiente demais. Há valor agregado à ele, pelos conhecimentos adquiridos. É possível traçar um paralelo com o caso do indivíduo instruído e o não instruído a partir dessa situação.
O que quero, com esse texto, não é defender a adoção desses parâmetros para definir o valor da vida das pessoas. É apenas pensar se não faria sentido esse raciocínio, de certa forma.