sábado, 6 de setembro de 2008

Trodonte - Capítulo 5


Zauros, provavelmente, era o nome mais comum que um indivíduo poderia ter na época da imponente civilização trodonte. Dentre os milhares de dinossauros cuja alcunha era essa, estava Zauros Raptori.

Zauros Raptori era um trodonte com escamas em grande parte marrons, e em razoável parte verdes. O brilho dessa derme denotava seus 16 anos de idade, completados não fazia um mês. Seu porte era esguio; seus músculos, nem muito grandes para que fosse considerado um brutamontes, nem muito pequenos de forma que não fosse chamado para carregar um grande peso.

O jovem se vestia, como a maioria de seus semelhantes, com roupas de couro de outros dinossauros, estes bestas grandiosas. As peles de pterossauros como o Pteranodon e pequenos mamíferos como o Megazostrodon eram uma exclusividade das elites, que tinham os meios e as ferramentas para extrair essas dermes de seus possuidores e, além disso, costurá-las de forma elegante.

Um costume típico dos trodontes era cobrir a cabeça com algo – um chapéu ou um turbante, que os individualizava tanto quanto os variados cortes de cabelo fariam com os seres humanos, dezenas de milhões de anos depois. E com Zauros Raptori não era diferente – ele usava um imponente chapéu de couro de dinossauro, com algumas marcas azuis (certamente, uma raridade, visto que apenas os dinossauros do extremo norte possuíam tal coloração). A concavidade esférica do acessório encaixava perfeitamente na cabeça, porém as abas seguiam linhas que formariam uma elipse, não fossem dois recortes em forma de arco em cada extremidade, que permitiam o repouso sobre as mandíbulas, caso o jovem eventualmente quisesse cochilar recostado numa conífera.

Zauros morava com seus pais e irmãos em uma grande fazenda de samambaias a alguns quilômetros da vila de Kwalish – uma cidade pequena para os padrões do reino de Écope. Seu pai era um ex-militar, perito em estratégias de guerra com grandes dinossauros. Sua mãe, enquanto isso, havia ajudado, a maior parte da vida, o avô de Zauros, a cuidar da fazenda. Já fazia em torno de 5 anos que o avô de Zauros, um caçador de dinossauros, havia falecido.

Foi o avô que despertou em Zauros o sonho de se tornar um caçador de dinossauros. O velho senhor, que possuía o mesmo nome de seu neto, havia ensinado-lhe os princípios básicos da caça, que o adolescente passou, e continuava passando a seus irmãos depois que ele morreu. Mas individualmente, Zauros não se contentou com o básico. Treinava todos os dias, sempre que tinha um tempo. Lia livros e mais livros com histórias e técnicas de grandes caçadores. Inclusive, andava dezenas de quilômetros, nas raras vezes nas quais podia, para conseguir as leituras que só se encontravam na grande capital.

Como tinha acabado do completar 16 anos, Zauros sabia que já estava pronto para entrar na Guilda dos Caçadores. Encontrava-se receoso por abandonar a família, mas seus pais haviam lhe dado certeza de que seus jovens irmãos, de 11 e 12 anos, podiam substituí-lo com os afazeres da fazenda.

As plantações de samambaia que a família cuidava eram uma herança do avô de Zauros. O caçador, que em vida era um integrante da Guilda, havia comprado aquele terreno assim que havia juntado dinheiro suficiente. Essa era, aliás, a motivação de muitos dos caçadores mais comuns – os lucros da caça poderiam ser rápidos, permitindo a estabilidade financeira para toda uma vida. No caso do avô de Zauros, o processo havia sido um pouco mais lento, mas assim que ele acumulou uma certa quantia de dinheiro, deixou a perigosa profissão.

Zauros, por sua vez, via a coisa de uma maneira diferente. O avô certamente gostava do que fazia, mas não gostava de assumir riscos. Zauros havia sido fascinado pelas caçadas, mesmo que poucas e de baixo risco, que tinha feito junto de seu avô. O jovem trodonte pensava, um dia, em viajar aos quatro cantos do mundo; em perseguir, junto a outros caçadores da Guilda, os mais ferozes e lendários dinossauros. Certamente não queria fama ou dinheiro – apenas a satisfação individual, a emoção de caçar os grandes dinossauros do Cretáceo.

Zauros Raptori estava prestes a começar sua jornada, que viria a ser profundamente diferente do que ele imaginava.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tive a impressão de que o texto fluiu melhor =]

Vamos indo, vamos indo =]

(até um dinossauro tá levando uma vida mais satisfatória que a minha XD)

Mas não entendi o lance do chapéu... descansar sobre as mandíbulas? Como é isso?

Anônimo disse...

Acho interessante como você coloca os animais como se fossen seres humanos.
E também tive a impresão de que o texto fluiu melhor dessa vez =)