sábado, 2 de agosto de 2008

Trodonte - Capítulo 4

Logo após avistar o Baryonyx, uma confusão de pensamentos tomou a mente de Celeber por um instante. Como havia parado no lago? A última coisa que lembrava era de ter caído no meio da floresta, quando, com muito esforço, havia arrastado seu amigo Decus e a novata do grupo, Thescella.

Alguém me carregou até aqui, essa é a única possibilidade. - pensou o experiente caçador trodonte.

As explicações para o fato dele estar num lugar diferente do qual havia desfalecido rapidamente cederam lugar ao enorme carnívoro como sua principal preocupação.

Talvez ele não tenha me percebido ainda! – Celeber tentava permanecer calmo. Já havia passado por situações certamente piores que essa, e se saído extraordinariamente bem. Ensaiou girar o corpo, para lentamente sair de perto do animal, com a destreza e a tranqüilidade necessárias para não alertar o enorme predador.

Sentiu então uma dor extrema no joelho direito, ao movimenta-lo. Suprimiu com todas as forças um grito, rangendo os dentes. Olhou para a perna. Espantou-se ao ver um grande hematoma cobria a região da rótula.

O que diabos é isso?! – pensou, com surpresa. Teria se machucado ao cair no chão? Olhou novamente para o enorme carnívoro que ameaçava sua vida. A criatura fitava a floresta quase que na direção oposta. Se virasse e então percebesse movimentos bruscos por parte do caçador, certamente avançaria em sua direção. Com os movimentos impedidos, suas chances de sobrevivência diminuíam.

Minhas armas! – veio a idéia e, por um instante, o caçador teve esperança. Sem tirar os olhos do enorme carnívoro, deslocou as mãos até onde estariam os famosos piquetes dos caçadores. Esses piquetes eram uma opção formidável de ataque para distância curtas. Consistiam de uma estaca de metal, que era encaixada num compartimento tubular com uma mola no fundo. A mola, quando comprimida até certo ponto, era contida firmemente por uma trava. Com o simples apertar de um botão, a trava era liberada e a estaca, lançada.

Mas Celeber entrou em pânico novamente. Os piquetes, haviam sido levados. Aliás, agora que tinha se dado conta. Seu arco, as flechas e todos os seus outros itens, nenhum deles estava com o caçador.

Alguém me deixou aqui para morrer! – a assustadora conclusão tomou sua mente. A perna machucada e a ausência das armas confirmavam tudo. Mas porque teriam feito isso?

Não podia pensar nessas coisas agora. Tinha que pensar em sair dali em segurança.

Talvez, quem quer que tenha feito isso, tenha esquecido de alguma coisa! – passou a vasculhar seus bolsos mais escondidos. Com alívio, encontrou um volume num compartimento da calça, localizado na parte da vestimenta que cobria o terço superior da cauda.

Subitamente, o enorme predador virou o pescoço na direção do trodonte. O sangue do caçador congelou. A criatura deu um passo em sua direção, e Celeber sentiu o chão tremer. O trodonte tentava tirar, com desespero, o que estava encaixado naquele bolso da cauda. A criatura se aproximava cada vez mais. Celeber passava a se arrastar instintivamente para longe dela, chegando bem próximo do lago. O enorme predador já estava a alguns metros, quando o caçador, com o coração disparando, finalmente conseguia tirar o item guardado em seu bolso justo.

Assim que removeu o objeto do bolso, este se acendeu. O que Celeber esperava que o salvasse era um frasco com um óleo incandescente, assim como o piquete, uma das armas dos caçadores. Na base do frasco, uma tira com fósforo estava colada – quando o tubo era removido do bolso, a tira se atritava com um anel áspero na boca do bolso, sendo acesa imediatamente.

A criatura que ameaçava Celeber estranhou aquela fonte de luz em sua mão direita, mas se deteve por só um instante. Avançou na direção do trodonte.

Te peguei! – falou em pensamento o caçador, esboçando um sorriso e atirando o frasco no dinossauro. O recipiente se chocou no peito do animal, quebrando-se e espalhando o líquido em sua fronte, que imediatamente ficou em chamas. A criatura, com a dor da queimadura, cambaleou e caiu no chão, esfregando os braços de maneira desajeitada contra o peito, querendo se livrar do enorme incômodo.

Celeber levantou-se como pode, e, arrastando a perna machucada, se afastava triunfante, porém ainda não totalmente seguro. Novamente os pensamentos do que havia acontecido voltaram à sua mente.

Os figos! – a verdade veio como um relâmpago em sua cabeça. Não podia ser uma coincidência. Alguém havia intencionalmente envenenado os figos com alguma substância entorpecente. Esse alguém provavelmente teria sido a mesma pessoa que havia carregado ele até aquele local, próximo do predador – ou quem sabe, do caminho que ele seguiria. O agressor teria tirado todas as suas armas e machucado sua perna, para garantir que ele não sobrevivesse ao encontro com a fera.
Será que esse agressor terá feito a mesma coisa com os outros? – pensou o caçador. Mas seria muito mais fácil envenenar os figos com alguma toxina mortal, se o objetivo fosse matar todos os caçadores. Provavelmente ele era o único alvo. Pensou se isso teria sido obra de algum rival, que desse jeito o mataria sem deixar nenhuma pista do crime.

Já se aproximava da linha das árvores. Olhou para trás e viu o predador se levantando. Calculou rapidamente que poderia se esconder com facilidade antes da criatura alcança-lo novamente.
Subitamente, Celeber ouviu um zunido, e foi ao chão novamente. No solo, se deu conta que havia sido atingido por uma flecha no peito.

O caçador nem teve muito tempo de pensar no que havia acontecido. A dor e o medo o tomavam por completo, enquanto a criatura se aproximava novamente, a não menos que cinco metros das árvores.

Ele ainda está aqui… - concluiu Celeber, com suas últimas forças. Arrastou o rosto com dificuldade no chão, tentando localizar o agressor. Viu apenas um vulto entre algumas árvores, que rapidamente se foi. Observou então a sombra do enorme carnívoro lhe cobrir, impotente e sem mais nenhuma esperança de sobreviver.

Com o movimento característico de pegar um peixe, tal qual fariam os ursos dezenas de milhões de anos depois, o grande Baryonyx puxou o caçador com apenas uma mão. Abocanhou seu corpo no ar, matando-o instantaneamente com o primeiro fechar das mandíbulas.

3 comentários:

Anônimo disse...

A parte em que Celeber está meio que encurralado pelo outro predador me lembrou cenas do Jurassic Park, quando as crianças estão paradas no carro, sem eletricidade e há um tiranossauro rex se aproximando. Tem o tremor de terra observado pela presa e a fonte de luz cegando o bicho grande, hehehe. Perdão, eu "só" vi esse filme mais de 20 vezes (sem brincadeira, parei de contar na décima sétima vez) e ainda assisto sempre que passa na TV a cabo. =)

Tadinho, morreu... como o cara que vai se esconder no banheiro de palha... =(

Ivan Yukio disse...

Que morte anti-clímax hehe

Cara que morre no banheiro de palha foi uma cena forte quando eu tinha uns 9 anos.

Anônimo disse...

Acho que estar no "trono" é uma das situações em que estamos mais vulneráveis. =P