sábado, 26 de julho de 2008

Trodonte - Capítulo 3

Enquanto observavam, a algumas dezenas de metros de distância, um grupo de estegossauros abocanhando folhas de um arbusto, Celeber e Decus tiravam de suas mochilas de couro os figos dos quais fariam a refeição da tarde. Sem interromper a conversa, os dois trodontes se alojavam apropriadamente, cada um em um galho. Ambos tinham as visões, tanto do bando de dinossauros perseguidos, quanto do grupo de caçadores que guiavam.

- E você acha que conseguiríamos abater os dois filhotes? – perguntou Decus, o trodonte designado como Monitor do grupo. O assistente de Celeber, que era efetivamente o líder da expedição, referia-se claramente aos dois filhotes de Baryonyx que o grupo havia avistado no dia anterior.

Não só os herbívoros, mas também os carnívoros eram caçados pelas equipes da Guilda dos Caçadores – embora sua utilização fosse deveras diferente: as ferozes criaturas eram usadas prioritariamente como guardas das grandes propriedades, e como oponentes de gladiadores nas arenas. Evidentemente, a caça de filhotes era muito mais fácil que a dos dinossauros adultos. Além disso, o adestramento de dinossauros carnívoros adultos era praticamente inviável.

- Eu creio que sim. – respondeu Celeber ao companheiro, enquanto tirava de sua mala de couro, os figos dos quais a dupla faria a refeição da tarde. Logo entregou a Decus três ou quatro deles. – Precisamos apenas arrumar um jeito de separar os filhotes dos pais.

Os dois continuavam a conversa, debatendo agora não só as estratégias para caçar o grupo de estegossauros, como também para pôr as mãos naqueles dois filhotes de Baryonyx – uma oportunidade que havia surgido durante a expedição e que, dado o valor comercial da espécie de carnívoro em questão, não podia ser ignorada. Saboreavam os figos com calma, sem deixar de prestar atenção aos movimentos do bando de estegossauros. Afinal, qualquer um deles poderia disparar em direção do grupo de caçadores, sem motivo aparente.

Foi então que, abaixo deles, no solo, surgiu repentinamente Thescella. A trodonte parecia cansada, ofegando enquanto apoiava-se numa árvore. Celeber e Decus se entreolharam, e desceram rapidamente da árvore sobre a qual estavam.

- Thescella, você está bem? – perguntou com sincera preocupação Celeber. Decus tirava, enquanto isso, uma moringa com água de sua mala de couro.

- Os figos… - disse a trodonte, com muito esforço. Logo perdeu seu apoio e foi ao chão, apoiando-se com a outra mão. Os dois trodontes se entreolharam, ainda processando o que ela havia dito. – Não com… Mmmph…

Thescella tentou completar a frase, mas, sem forças, foi aos braços de Celeber, que a segurou como pôde.

- Thescella, o que você tem? Thescella! – disse o dinossauro, tentando acordar a caçador. Tentava posicionar o corpo da jovem, e estranhou que o Monitor não estivesse ajudando-o. Atento à desfalecida, chamou pelo companheiro. – Decus, me ajude aqui!

Entretanto, o amigo de Celeber olhava aos arredores, parecendo como se estivesse tentando elaborar uma estratégia. O famoso caçador, vendo isto, estranhou. Não entendia por que ele não o ajudava com Thescella, que parecia ter sofrido um mal-estar.

- Os figos estão contaminados! – disse subitamente Decus. Celeber caiu na real. Thescella tinha tentado avisa-los antes de desmaiar. E ele, tão preocupado com a conterrânea, não atentou às suas palavras, convencido de que ela havia sofrido apenas um mal-estar. – Eu vou ver se todos estão bem, me ajude a subir!

Celeber ajudou seu companheiro a escalar novamente a árvore. Mas mal subiu nela, Decus sentiu seus braços fracos. Os figos contaminados estavam fazendo efeito. Soltou-se da árvore e se concentrou, tentando inutilmente não desmaiar.

- Decus! – exclamou Celeber. Sabia muito bem dos perigosos que os dois corriam ali, se fossem encontrados por predadores. E logo ele também desmaiaria, embora tivesse comido apenas um dos figos. Em seus braços, o Monitor esforçava-se para falar. – Deixe-me aqui, leve só a garota! Antes que você também desmaie!

Apesar da experiência, o famoso caçador estava assustado. Nunca havia passado por isso antes. Decus desmaiou em seus braços. Lembrou-se rapidamente das regras: “se o grupo estiver parcialmente incapacitado, todos devem ficar juntos e num lugar protegido, para melhorar as condições de sobrevivência.”. Mas como aplicaria as normas da Guilda numa situação como aquela? Provavelmente, todos estariam desfalecidos àquele hora.

Seu amigo havia pedido-lhe que levasse apenas a jovem Thescella, mas Celeber não podia deixa-lo. Com razoável esforço, começou a arrastar os dois trodontes até a clareira onde o grupo se encontrava. Eram só algumas dezenas de metros, mas pareciam quilômetros para o Mestre de Caça. Ainda sem avistar a clareira, começou a sentir a fraqueza que os figos contaminados lhe causavam. Dobrou os esforços. Faltavam apenas alguns metros. Quando chegou perto do grupo, caiu no chão, tonto e ofegante.

Seus olhos pesavam. Não podia mover um músculo sequer. Sem forças, adormeceu.


O grande lago no centro da floresta de coníferas era o ambiente perfeito para que um bando de dinossauros bico-de-pato matassem a sede. O Baryonyx, nas margens do outro lado, não os preocupava. De todo o modo, o carnívoro os ignorava, enquanto tentava arrancar, com custo, os restos de alguma criatura que estavam presos debaixo de um tronco.

A dez ou quinze metros dele, um trodonte estava caído no chão.

Celeber abriu os olhos, entorpecido. A luz lhe ofuscou a vista por um momento. Pensou por um momento em que lugar estaria. Sentiu a areia grossa das margens do lago em seu rosto, e a brisa característica. A mesma lhe trouxe os odores de carne apodrecida. Pô-se em alerta, e virou a cabeça lentamente na direção oposta. Arregalou os olhos , enquanto um medo avassalador tomou sua face por completo.
Viu então o Baryonyx, que acabava de remover aquele pedaço de carne apodrecida de debaixo tronco, e engoli-lo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Os figos levaram os dinossauros à extinção?

Acho que nunca comi um figo.

Ivan Yukio disse...

Ò_ó

ok, não estou entendendo muito bem aonde isso vai dar, mas continuo lendo

Nefelibata disse...

É que os capítulos estão curtos demais para sentir a coluna da história. Também não dá para escrever muito em uma hora, e para efeitos de blog.

Mas estou aqui ficando com inveja XD

Eu tinha o maior orgulho por saber nomes e características de dinoassauros quando tinha lá meus 8, 9 anos. Agora esqueci tudo XD.