sábado, 5 de julho de 2008

Apocalipse Múltiplo - parte 2


Ao longo da década de 2030, as mudanças climáticas que haviam começado dez anos antes se agravaram. Teoricamente preocupados com o futuro da humanidade, um grupo de cientistas se juntou no chamado Projeto Centauri, uma instituição internacional que buscava unicamente o desenvolvimento de espécies resistentes às condições de vida cada vez mais severas em algumas partes do planeta, por meio da manipulação genética. Embora negasse, a organização também realizava experiências com seres humanos geneticamente modificados, algo proibido por praticamente todos os governos do planeta.

Paralelamente, a Corporação Axis continuava a crescer desenfreadamente. Em 2037, atingiu a impressionante marca de meio bilhão de empregados diretos e indiretos. Dada sua influência no governo da Austrália, com executivos ocupando a maioria dos cargos políticos, inclusive o de primeiro-ministro e o de governador-geral, a Corporação Axis inevitavelmente tomou o poder do país para si no final de 2039, criando o primeiro governo por parte de uma empresa privada do mundo.

Enquanto isso, em maio de 2040, os cientistas do Projeto Centauri começavas seus primeiros experimentos secretos com colônias de humanos geneticamente modificados. Localizadas principalmente nos desertos do Saara e do Mojave, nos EUA, e na floresta amazônica, as criações desses cientistas eram variadas, mas o experimento de maior êxito foram os chamados elfos.

Os elfos, humanos de pele esverdeada, com a incrível capacidade de realizar a fotossíntese (em níveis muito mais produtivos que o das plantas), eram a principal aposta dos cientistas para que a humanidade sobrevivesse aos efeitos do aquecimento global. As colônias dos elfos eram extremamente bem escondidas, uma exigência dos idealizadores do projeto, dada a clandestinidade dos experimentos realizados.

Apesar das surpreendentes (e moralmente duvidosas) criações do Projeto Centauri, a mesma ficaria conhecida no mundo inteiro por outros motivos. Em dezembro de 2042, uma misteriosa epidemia se iniciaria na cidade de São Paulo. Os acometidos pelo chamado vírus Zaph se transformavam em seres animalescos, inconscientes, que buscavam apenas saciar seus instintos mais básicos, se alimentando de carne (na maior parte das vezes, humana). Centenas de milhões de pessoas foram vitimadas. Era como se o pesadelo dos filmes de terror do século 20 sobre zumbis houvesse se tornado a mais pura realidade.

Com o alastrar da epidemia por toda a extensão do continente sul-americano e até mesmo parte da África, os cientistas do Projeto Centauri foram imediatamente responsabilizados, embora não se pudesse provar a culpa dos mesmos no incidente. O projeto foi encerrado oficialmente em março de 2043, mas continuaram a operar secretamente as colônias de elfos.

Enfrentando extremas dificuldades, os Estados Unidos, a China e a Corporação Axis (agora capaz de rivalizar como superpotência com as duas primeiras), foram capazes de restringir a epidemia do vírus Zaph de se alastrar ainda mais. Porém, as campanhas executadas por essas três potências tinham um segundo objetivo: assegurar a influência de cada uma sobre a floresta amazônica, a última grande fonte de água doce do planeta, capaz de ser extraída. A região brasileira logo se tornou um ponto de tensões entre os EUA, a China e a maior empresa privada do mundo.

Enquanto confrontava as duas grandes nações na Amazônia, a Corporação Axis produziu, em agosto de 2043, sua mais nova revolução no mercado dos robôs domésticos: os andróides com lógica baseada em erros.

A lógica baseada em erros consistia de uma programação que gerava, aleatoriamente, vontades, medos e diferentes tipos de emoção, dependendo do que o robô experimentasse desde o momento em que havia sido ligado. Obviamente, tudo era simulado, mas essa simulação era tão perfeita, que não chegava a se diferenciar um gesto de carinho executado por um robô, daquele executado por um ser humano. De um simples medo de aranhas até uma complexa paixão, essa nova geração de andróides era capaz de simular qualquer ato aparentemente exclusivo de um humano.

A aceitação desse novo modelo foi imediata. Especialistas acreditam que, talvez principalmente com o advento da Ultranet, tenha se criado uma nova geração extremamente introspectiva, incapaz de interagir com a sociedade real, e daí estaria explicada a boa recepção desse novo tipo de robô, que tecnicamente era inferior aos antigos. Vale lembrar que, mesmo com a lógica baseada em erros, os andróides ainda deviam obedecer às três leis. Assim, em casos extremos, os novos modelos eram como os robôs antigos.

Temerária quanto à modificação desses novos robôs e a negação das três leis, a Corporação Axis mantinha um rígido controle sobre os andróides vendidos. Chegou-se ao ponto de que não era permitida a venda dos mesmos a qualquer pessoa que possuísse mínimos conhecimentos em programação e robótica.

Entretanto, o sistema de segurança não era, nem poderia ser, perfeito. Em 15 de fevereiro de 2044, o engenheiro italiano Antonio Grimaldi anunciou que havia modificado cerca de 14 robôs do novo modelo, para que não obedecessem às três leis.

O engenheiro, judeu, era um notório defensor da causa de seu povo. O Estado de Israel havia sido completamente destruído na guerra nuclear da década de 2010. Grimaldi lutava pela criação de um novo Estado de Israel, dessa vez na Europa, que reunia algumas das últimas terras férteis do planeta. Ignorado, ele surpreendeu o mundo com seu anúncio da alteração dos robôs, e disse que, se suas exigências políticas não fossem atendidas, os robôs seriam ligados.

Assim como suas exigências nunca foram atendidas , o engenheiro Antonio Grimaldi nunca foi encontrado vivo, e os robôs inevitavelmente foram acionados em janeiro de 2045. O que se viu a seguir foi um surpreendente levante das máquinas, com a fundação da República dos Robôs, tomando grande parte das frias terras russas. Esse incrível crescimento se deu nos quinze anos seguintes.

8 comentários:

dmariano disse...

Uhmmm..pq elfos? XD

Mas bem, interessante, a questã odo virus Zaph ae me lembrou de "eu sou a lenda" assisti esses dias.
E na verdade, acho eu que Estados Unidos não chega tão longe como forma de grande potencia, acredito que logo logo apareça alguem pra desbancar, ou não.

Mas, enfim, maneiro, agora desenha as coisas..xD

Leonardo Passinato disse...

adoro exercícios de futurologia.
Falando em futurologia e robôs, gosto de imaginar - um tanto utopicamente é verdade - que num futuro não mto distante vamos ter algo como aqueles falanstérios dos primeiros socialistas, onde os homens vão se dedicar ao ócio criativo e a produção bruta caberá aos robôs...

utopia, como já reconheci, mas válido XD

Thomás disse...

Caramba. Elfos? OMG!
Isso começa a ficar zas interessante.
Eu quero ser um Elfo. \o/

Deixa eu ver se entendi. Os Robôs de que você falou adquririam experiências como o medo, tristeza e outros sentimentos e conseguiriam analisar quando um humano estivesse sentindo qualquer um desses sentimentos?

Anônimo disse...

Repetição de comentário: ELFOS? OMG, você tem uma imaginação incrível o//
Adorei! E fiquei com pena deles...o.O

Quero ver a batalha contra os robôs. ^^

Anônimo disse...

Continue escrevendo!! To gostando pra caramba do desenrolar da história ^^

E vamos todos virar plantas! \o/

Abraço

Rabay disse...

@DJ: Então, a semelhança com "Eu sou a Lenda" não é por acaso, a história faria várias referências a tantos filmes e outras histórias em geral sobre o fim do mundo.

@Leonardo: Eu também adoro ficar imaginando como será o futuro. Teve uma época que quis ser futurólogo, olha soh hehehe. E acho que não estamos fora do caminho dessa utopia que vc falou não, é só ver como cresce a indústria do entretenimento (filmes e games mais especificamente) atualmente. Mas não acho que a gente chega, efetivamente, a essa utopia.

@Thomás: A questão não é que os robôs adquiriram essas experiências, eles são capazes de simulá-las perfeitamente, e eles são programados para gerar aleatoriamente essas emoções. A capacidade de analisar o que um ser humano estivesse sentindo, mesmo os robôs antigos já teriam, a novidade do novo modelo seria o que ele simularia como resposta, compaixão, desprezo, etc.

@Bibi: Valeu =D Então, na verdade a batalha não seria especificamente contra os robôs, seria todos contra todos, pois tem a Corporação Axis aí no meio e China e EUA, fora os perigos climáticos e a ameaça dos zumbis heheh

@Danilo: Então, esses textos eu faço meio que jogados, não espere uma continuação tão cedo heheh (mesmo pq a história em si eu ainda não bolei, só o que acontece antes até lá, que aliás não falta muito pra explicar), eh que nem aquele outro que eu fiz, Trodonte.

Ivan Yukio disse...

Bom, todos já comentaram os pontos mais importantes.
Só queria deixar uma questão. Por que Apocalipse? Tanta coisa nova sendo criada, a Terra não é só dos humanos. Aliás, humanos são mais é um câncer pra Terra, uma varridinha neles aumentaria em muito a vida do planeta como organismo.

Nefelibata disse...

Hahahaha, Ivan revelando o lado Ultima Weapon dele XD

Sobre a fotossíntese... eu me lembrei de quando descobri que o Piccolo do DBZ fazia isso, porque era verde, só tomava água e no planeta dele tinha 3 sóis e nunca ficava de noite.

Mas será que, tendo acesso a minerais como as plantas têm... os elfos engordariam se passassem o verão na praia? XD

(Ou a praia é mto mortal nessa época? o.O)